"Os arquivos de Guantánamo, que o WikiLeaks começou a publicar, revelam essa monstruosidade da era (George W.) Bush que o governo (Barack) Obama decidiu continuar", afirmou Julian Assange para a agência pública ontem. A declaração resume a importância do vazamento mais recente da organização, que começou a ser publicado na madrugada de domingo para segunda-feira.
São milhares de fichas de prisioneiros ou ex-prisioneiros de Guantánamo, em Cuba, e outros documentos relacionados, emitidos pela Força-Tarefa de Guantánamo (JFT-GTM) e enviados na forma de memorandos ao Comando Sul dos Estados Unidos, que coordena operações militares americanas nas Américas Central e do Sul.
As fichas relatam o estado de saúde dos atuais presos, refazem a teia investigativa que os levou à prisão e revelam que boa parte dos acusados foi incriminada com base em depoimentos de outros presos, obtidos sob tortura em Guantánamo e nas prisões secretas da CIA. Uma revisão cuidadosa dos documentos revela que o mercado de recompensas promovido pelos Estados Unidos levou à detenção de inocentes por acusações formuladas por informantes interessados apenas em prêmios em dinheiro.
Também revelam como são feitos os "pareceres", que recomendam ou não a permanência dos presos na base de Guantánamo, não apenas pela força-tarefa mas também pelos responsáveis pela investigação criminal e psicólogos encarregados de avaliar a maneira pela qual devem ser utilizadas as informações obtidas em outros interrogatórios.
"A publicação dessas informações é importante para o público, para os prisioneiros e ex-prisioneiros e para os juízes que se ocupam desses casos. Muitos estão presos há anos sem acusação formal e com base em testemunhos falsos", disse Assange. "Está na hora de reacender a discussão pública sobre a prisão de Guantánamo, na esperança de que, finalmente, se possa fazer alguma coisa para fazer justiça", afirmou o fundador do WikiLeaks, que qualificou a base americana em Guantánamo de "um estabelecimento de lavagem de pessoas".