Um guarda iraquiano que participou da detenção de 173 prisioneiros encontrados trancados numa cela subterrânea no Ministério do Interior do país não demonstrou qualquer remorso, quando confrontado com as denúncias de tortura e abusos. O jovem guarda, de 18 anos, disse nesta quarta-feira que o tratamento dado aos presos era justificado pelo fato de serem suspeitos de terrorismo.
O novo escândalo de maus-tratos a presos no Iraque, que acendeu as memórias do caso de Abu Ghraib e dos tempos mais sombrios da ditadura de Saddam Hussein, eclodiu na noite de domingo, quando tropas americanas procuravam um adolescente desaparecido. Em vez disso, num bunker de um complexo do Ministério do Interior, no distrito de Jadriya, acharam 173 presos, com sinais de desnutrição severa, espancamentos e tortura. Na terça-feira, o governo do Iraque confirmou "sinais de abuso físico" e "agressão brutal" e anunciou a abertura de uma investigação.
Do alto de uma das torres de vigilância, diante do prédio sem janelas, no Centro de Bagdá, o guarda Seif Saad, um ex-operário sem treinamento policial, descreveu à agência de notícias Reuters como as forças de segurança vasculhavam casas de suspeitos detidos ou os arrastavam das ruas.
- Colocávamos sacos na cabeça deles e amarrávamos suas mãos nas costas - narrou Saad, ostentando um uniforme das forças especiais da polícia, semelhante ao de uma milícia xiita. - Eles eram trazidos para cá para interrogatórios sobre atentados a bomba. Alguns eram libertados. Outros eram levados para prisões.
O guarda afirma que eles eram detidos independentemente de serem xiitas, sunitas ou curdos. "Se eram suspeitos de terrorismo", eram presos. Ele disse que a maioria dos detentos era iraquiana, mas que também havia sírio e egípcios.
A descoberta dos detentos causou enorme embaraço para o governo iraquiano, apoiado pelos EUA e que prometera preservar os direitos humanos, após décadas de atrocidades cometidas pelo regime de Saddam Hussein.
A minoria árabe sunita acusa milícias vinculadas ao Ministério do Interior e a partidos políticos xiitas de perseguir sunitas em incursões, prendendo-os sem acusação. O governo liderado pela maioria xiita nega as acusações.
O escândalo da cela subterrânea tende a aprofundar as desconfianças mútuas e a tensão sectária que mantêm o Iraque sob constante temor de uma guerra civil.
Um clérigo iraquiano que disse ter informações sobre as incursões ao complexo, no domingo, disse que, num único cubículo de quatro por cinco metros foram achados 40 homens.
A prisão subterrânea, um abrigo antibombas do antigo regime, fica ao lado de um prédio que os guardas dizem ter sido um palacete construído para uma das filhas de Saddam.
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