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Revolta árabe

Guerra civil em zona explosiva

Mesmo com a acusação apresentada pela ONU de que crimes contra a humanidade são cometidos na Síria, grupos a favor do presidente Bashar al-Assad vão às ruas em defesa do regime do ditador | AFP/Sana
Mesmo com a acusação apresentada pela ONU de que crimes contra a humanidade são cometidos na Síria, grupos a favor do presidente Bashar al-Assad vão às ruas em defesa do regime do ditador (Foto: AFP/Sana)

O anúncio da Organização das Nações Unidas, na última quinta-feira, de que a Síria se encontra em estado de guerra civil confirma o que já era previsto por diversos analistas, repórteres e observadores internacionais. A insistência de Bashar al-Assad em permanecer no poder, insurgentes contra o regime do ditador, conflitos entre diferentes vertentes religiosas e uma posição geográfica estratégica são alguns dos elementos que estimulam a agora reconhecida guerra civil.

"A situação da Síria é extremamente complexa com etnias, com sistemas de tribo e um grupo que está há muitos anos no poder, e quer continuar. Além disso, a insatisfação popular é muito grande. Forças que eram do governo debandaram e estão contra agora. E o governo sírio perdeu apoio de antigos aliados, como a Turquia e a Liga Árabe", diz o professor Expedito Bastos pesquisador de assuntos militares da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) ao analisar o atual panorama do país.

Bashar al-Assad é o presidente sírio desde 2000 e foi antecedido por seu pai, Hafez al-Assad, que ficou 30 anos no poder. A Síria, junto com o Líbano, é considerado um país em que a minoria cristã goza de grande liberdade. A família Assad é alaoíta (vertente minoritária da religião muçulmana), e a elite do país é formada por muitos integrantes desse grupo religioso, assim como as lideranças militares.

Essas duas minorias religiosas temem que, com a queda de Assad, passem a sofrer perseguições e integram os grupos que vão as ruas em defesa do presidente. Durante a revolta, além dos pedidos para que Assad deixe o poder, também já estão ocorrendo manifestações de ódio religioso. "Vários grupos que se toleravam começam a se combater", observa Bastos.

"Para ocorrer uma guerra civil, o Estado perdeu algum domínio, não consegue mais ter controle de todo seu território", explica Rui Dissenha, professor de Direitos Humanos da Universidade Posi­­tivo. Damasco, a capital síria, ainda é descrita por alguns dos que conseguem entrar e enviar informações como uma cidade em aparente normalidade. Mas em cidades como Homs, que é a terceira maior do país e de maioria sunita (em geral oposicionista), que os conflitos dão motivo para que se reconheça uma guerra civil no país. Imagens de corpos ensanguentados, sem identificação, circulam o mundo. Muitas das mortes são causadas por forças do governo que reprimem os rebeldes, mas também há assassinatos entre civis armados por questões religiosas.

Ao apresentar sua avaliação da situação síria, na última quinta (1), a alta comissária de direitos humanos da ONU, Navi Pillay, recordou que em agosto já havia avisado ao Conselho de Segurança que o número de desertores estava aumentando e que isso levaria a uma guerra civil, já que essas pessoas têm acesso a armas. A ONU apurou que mais de 4 mil pessoas morreram nos confrontos e que até agora 307 crianças foram assassinadas.

Consequências

Diante da constatação da guerra civil síria e das atrocidades cometidas pelo governo de Assad, as reações internacionais devem prosseguir. Depois de a Liga Ára­­be aprovar sanções contra a Síria, há duas semana, o Conselho de Direitos Humanos da ONU condenou na última sexta-feira (2) os atos violentos cometidos no país e classificou como crimes contra a humanidade, que devem ser levados aos Tribunal Penal Inter­­nacional.

Para Luís Alexandre Winter, professor de direito internacional da Pontifícia Universidade Cató­­lica (PUCPR), não irá ocorrer uma intervenção militar como aconteceu na Líbia. "A Síria tem a Rússia como aliada que tem poder para impedir o fechamento do espaço aéreo caso fosse proposto no Conselho de Segurança da ONU". A vizinhança já repleta de conflitos (veja infográfico) também pode fazer com que a comunidade internacional tenha mais cautela antes fazer uma intervenção militar na Síria.

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