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Guerra de palavras

Rebeldes líbios, que lutam contra as forças ligadas ao ditador Muamar Kadafi, fazem graça para o fotógrafo da Reuters enquanto viajam por uma rodovia da Líbia, entre Benghazi e Ajdabiyah | Suhaib Salem/Reuters
Rebeldes líbios, que lutam contra as forças ligadas ao ditador Muamar Kadafi, fazem graça para o fotógrafo da Reuters enquanto viajam por uma rodovia da Líbia, entre Benghazi e Ajdabiyah (Foto: Suhaib Salem/Reuters)

No noticiário sobre o Oriente Médio, desde a Primavera Árabe em janeiro passado, as agências internacionais falam de "insurgentes", "rebeldes", "manifestantes" e "revolucionários" para designar aqueles que se levantam contra os governos no poder.

Às vezes, elas optam por termos mais neutros. É quando aparecem "forças opositoras" – modo como a France Presse se referiu aos sírios que protestam contra o presidente Bashar Assad – ou "combatentes do Conselho Nacional de Transição" – termo usado pela Reuters para falar dos líbios que lutam contra o ditador Muamar Kadafi. A Gazeta do Povo procurou pesquisadores ligados à Ciência Política e à Linguística para avaliar diferenças possíveis entre as palavras, mostrando o que se esconde por trás de uma e de outra.

"Revolucionário" almeja mudanças drásticas no mundo, afirma analista

A reportagem perguntou para pesquisadores sobre a diferença entre "rebelde" e "revolucionário", e entre "opositores" e "insurgentes". Professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) e pesquisador na área de Direito Interna­cional, Salem Hikmat Nasser afirma que é preciso ter cuidado e considerar não somente os sentidos das palavras, mas também os contextos em que estão inseridas.

"‘Rebeldes’ tende a ser usado na Lí­­bia porque ali se está normalmente fazendo referência a revoltosos que de fato se insurgem pelas armas contra o governo, com força razoável, mas bastante desorganizadamente", explica Nasser. "Talvez o termo ‘rebeldes’ nos pareça dar conta de modo mais eficaz desses vários traços."

"Já ‘insurgentes’ parece carregar – mais uma vez, talvez pelo contexto em que é intencionalmente usado – um sentido de oposição, também armada, porém mais pontual, esporádica, talvez até menos legítima", continua o profes­­sor da FGV. "Entre ‘opositores’, de um lado, e ‘rebeldes’ e ‘insurgentes’, de outro, o primeiro não carrega o sentido de uso de força ou de meios armados."

Por fim, Nasser destaca a palavra "revolução" e seus derivados. "São o que se pode chamar de ‘palavras grandes’, carregam muito peso. O ‘revolucionário’ não apenas se manifesta contra o governo ou suas políticas, não apenas se revolta contra o estado de coisas, não apenas se rebela contra o re­­gime ou parte para a insurreição, mas faz tudo isso e um pouco mais com a intenção de mudar o mundo, substituir um sistema por outro."

A professora Luciana Worms, do Dom Bosco, diz não ver muita disparidade ideológica entre "opositores" e "insurgentes". "A não ser quando aplicadas em casos específicos", diz.

"Os termos que mais me intrigam são: ‘terroristas’ para os inimigos de Hosni Mubarak, ou para os inimigos dos amigos de Israel e dos Estados Uni­­dos (é uma desqualificação – terrorista é do mal); ‘rebeldes’ para os inimigos de Kadafi (é quase um elogio – ser rebelde é ser quase um inconformado com as injustiças do mundo)", diz.

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