O ano que chega ao fim é um daqueles cujos fatos influenciarão muito os anos e até décadas seguintes, por terem um peso que por ora segue difícil de medir: a morte da mais longeva monarca britânica; a crise da esquerda na América do Sul, com a condenação de um nome importante na Argentina e a destituição de um presidente no Peru; eleições inesperadas no Reino Unido e na Itália; e o acontecimento geopolítico mais importante dos últimos anos: a guerra da Ucrânia.
A Gazeta do Povo resume esse ano tão agitado, com os fatos (e suas respectivas fotos) que mais repercutiram. Confira:
Fevereiro
Caminhoneiros e outros manifestantes no Canadá protestaram contra medidas de enfrentamento à Covid-19, especialmente os passaportes vacinais implantados pelo governo, bloqueando o centro da capital, Ottawa, e passagens na fronteira com os Estados Unidos. A gestão Trudeau invocou a Lei de Emergências para prender centenas de manifestantes e remover veículos.
Nas primeiras horas do dia 24, o presidente russo, Vladimir Putin, anunciou uma “operação militar especial” para desmilitarizar e “desnazificar” a Ucrânia. Foi o início do mais importante conflito na Europa desde a Segunda Guerra Mundial.
Março
Com a posse de Gabriel Boric, eleito no final de 2021, a esquerda voltou ao poder no Chile. Entretanto, com a alta inflação e a desaceleração econômica, o novo presidente viu uma proposta progressista de nova Constituição (elaborada por uma constituinte eleita antes dele) ser rejeitada em referendo e termina o ano com a popularidade em baixa.
Abril
Após a saída das tropas russas, dezenas de corpos de civis foram encontrados na cidade ucraniana de Bucha. Nos meses seguintes, a crueldade das forças do Kremlin foi reforçada com revelações de outros massacres, deportações forçadas, torturas e bombardeios ao sistema elétrico da Ucrânia às vésperas do inverno.
Repetindo o segundo turno que havia protagonizado em 2017 contra Marine Le Pen, Emmanuel Macron saiu vitorioso novamente e se tornou o primeiro presidente francês desde Jacques Chirac (1995-2007) a ser reeleito.
Junho
Manifestantes pró-vida comemoraram em frente à Suprema Corte e por todos os Estados Unidos depois da decisão do tribunal que anulou o entendimento do caso Roe vs. Wade, de 1973, e devolveu aos estados americanos a liberdade de legislar sobre o aborto.
Julho
Acuado por escândalos, como o Partygate, festas realizadas por altos funcionários enquanto a população estava submetida a lockdowns (foto), o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, anunciou sua renúncia.
Agosto
A presidente da Câmara americana, Nancy Pelosi, visitou Taiwan, ilha que a China considera parte do seu território. A resposta de Pequim elevou as tensões: realizou os maiores exercícios militares que a região já viu, rompeu parcerias com os EUA (como na área de mudanças climáticas) e aumentou a retórica que indica uma invasão em breve.
Gustavo Petro se tornou o primeiro presidente de esquerda da história da Colômbia. As reformas que propôs, como a tributária, e medidas como a retomada das relações com a Venezuela e as negociações de paz com a guerrilha Exército de Libertação Nacional (ELN) atraem críticas num país que saiu dividido das urnas.
Setembro
Dois premiês britânicos numa imagem: Liz Truss e Rishi Sunak foram os finalistas na eleição para a liderança do Partido Conservador. Ela venceu a disputa, mas em outubro renunciou devido à péssima repercussão do seu plano econômico e Sunak assumiu.
Milhões de britânicos prestaram homenagens no Palácio de Westminster à rainha Elizabeth II, que morreu aos 96 anos ostentando o recorde de reinado mais longo da história britânica, com 70 anos como monarca. Seu filho mais velho se tornou o rei Charles III.
O Irã teve suas maiores manifestações desde o Movimento Verde, que começaram devido à indignação pela morte de uma jovem de 22 anos nas mãos de policiais de costumes por “uso inadequado” do hijab, o véu islâmico.
Os protestos nas semanas e meses seguintes, que tiveram solidariedade internacional, também passaram a pedir o fim do regime islâmico, que respondeu com violência, prisões e processos judiciais – alguns deles levando a penas de morte.
Liderando uma coalizão de direita que também incluía os partidos de Matteo Salvini e Silvio Berlusconi, Giorgia Meloni venceu eleição antecipada devido à perda de apoio no Parlamento sofrida pelo primeiro-ministro Mario Draghi e se tornou a primeira mulher premiê da Itália.
Outubro
No 20º Congresso do Partido Comunista da China (PCCh), o ditador Xi Jinping confirmou sua escalada autoritária: sem adversários, foi reconduzido aos cargos de secretário-geral da legenda e presidente da Comissão Militar Central, e no começo de 2023 vai iniciar um inédito terceiro mandato de cinco anos na presidência chinesa.
Após um anúncio, a desistência e um processo do Twitter para obrigá-lo a fechar o negócio, o bilionário Elon Musk finalmente completou a compra da rede social. Nas semanas seguintes, ele reativou contas de usuários suspensos pela gestão anterior (como o ex-presidente americano Donald Trump) e chancelou os Twitter Files, que acusaram os antigos proprietários de proteção à esquerda e perseguição à direita.
Em dezembro, Musk foi criticado por suspender oito jornalistas da plataforma, alegando que compartilharam informações em tempo real sobre a localização do seu avião. Ele reativou as contas depois e prometeu deixar em breve o cargo de CEO.
Novembro
Os republicanos não tiveram a vitória que esperavam nas eleições de meio de mandato presidencial nos EUA: tomaram dos democratas o controle da Câmara, mas sem a diferença arrasadora que projetavam, e viram os rivais manterem o domínio do Senado. A melhor notícia para a oposição foi a fácil reeleição de Ron DeSantis como governador da Flórida, triunfo que o credencia a disputar a Casa Branca em 2024.
Com ajuda militar e financeira do Ocidente, a Ucrânia iniciou uma contraofensiva contra os russos cujo auge até o momento é a retomada de Kherson, única capital regional que os invasores haviam ocupado desde o início da guerra.
Novembro/dezembro
O que parecia impossível aconteceu: após as maiores manifestações no país em muitos anos, a China finalmente ouviu sua população e em dezembro flexibilizou a Covid Zero, política de rígidas medidas impostas quando poucos casos da doença eram registrados.
Porém, devido à baixa taxa de vacinação entre idosos e à insistência em vacinas produzidas no país (menos eficientes contra a variante ômicron), a China registrou milhões de casos nas semanas seguintes e provavelmente muitas mortes (ainda que as autoridades tenham confirmado poucas), como indicado pelo intenso movimento em crematórios.
Dezembro
Depois de sofrer uma tentativa de assassinato em setembro, a vice-presidente da Argentina, Cristina Kirchner, foi condenada a seis anos de prisão e inabilitação perpétua para o exercício de cargos públicos por corrupção por um tribunal federal. Entretanto, devido ao foro privilegiado e com possibilidade de recorrer a instâncias superiores, ela não foi detida.
Após uma tentativa de golpe de Estado, o presidente Pedro Castillo foi destituído pelo Congresso do Peru e preso (na foto, detido na Prefeitura de Lima). Foi a extensão da crise política no país: sua substituta, Dina Boluarte, se tornou a sétima presidente peruana em seis anos e meio e enfrentou protestos de apoiadores do antecessor.
A dois dias do fim do ano, o Brasil chorou a morte de um de seus astros maiores, Edson Arantes do Nascimento, o Pelé. Ele foi vítima de um câncer aos 82 anos. Homenagens do mundo inteiro foram feitas nas redes sociais. O colunista da Gazeta do Povo Leonardo Coutinho relatou que vidas foram salvas ao redor do mundo, tanto de brasileiros quanto estrangeiros que se fingiam de brasileiros, pela mera menção do nome do Rei, amado por todos.
No último dia do ano, a Santa Sé anunciou a morte do papa emérito Bento XVI, aos 95 anos de idade. O alemão Joseph Ratzinger havia sucedido João Paulo II como líder da Igreja Católica em 2005 e em 2013 renunciou ao trono de Pedro.
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