Na região de Kursk, número de homicídios e tentativas passou de 58 em 2021 para 89 no ano passado| Foto: Artem Svetlov/Wikimedia Commons
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Além do status de pária internacional e da retração econômica, a Rússia aparentemente está lidando com outra consequência da invasão que promoveu à Ucrânia em fevereiro de 2022: o aumento da violência.

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De acordo com dados da Procuradoria-Geral da Rússia, divulgados pela associação de advogados Travmpunkt no final de março, o número de assassinatos e tentativas cresceu pela primeira vez no país em 20 anos.

De acordo com o relatório, cujo conteúdo foi publicado pelo jornal russo Kommersant, em 2002 foram registrados 32.265 casos de assassinato e tentativa de homicídio na Rússia. Os números foram diminuindo ano a ano, até que em 2022 foi registrada alta: foram 7.628 casos de assassinato e tentativa de homicídio, ante 7.332 em 2021, uma variação de 4%.

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O Ministério do Interior russo discorda dos números e alega que a violência no país diminuiu no ano passado.

O Travmpunkt citou que essa alta dos homicídios pode estar relacionada ao aumento do consumo de álcool entre a população em geral e ao transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) entre soldados que lutaram na guerra da Ucrânia – dois fatores potencialmente relacionados.

Os autores do estudo mencionaram dados da Rosalkogolregulirovanie, a agência federal russa que regula o mercado de álcool no país, que apontaram que as vendas no varejo de bebidas alcoólicas com teor superior a 9% cresceram 6,8% na Rússia em 2022.

De 70 a 80% dos assassinatos no país são cometidos por pessoas embriagadas, e o maior consumo de álcool é um quadro comum entre ex-combatentes e civis sofrendo de TEPT, afirmaram os pesquisadores.

Embora a violência tenha aumentado em várias regiões russas, houve alta especialmente nas localizadas perto da fronteira com a Ucrânia: em Belgorod, o número de assassinatos e tentativas praticamente dobrou, ao passar de 52 em 2021 para 102 em 2022, e na região de Kursk, os registros foram de 58 para 89.

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O primeiro ano da guerra na Ucrânia também coincidiu com alta nos índices de violência doméstica: a advogada Anastasia Sherdakova, coautora do relatório, mencionou que um centro de atendimento registrou em 2022 um aumento de 5% no número de mulheres que contataram sua linha direta.

Outra relação aparente entre o conflito e o aumento da criminalidade russa foi apontada pela ex-candidata à presidência Ksenia Sobchak, crítica de Vladimir Putin: ela mencionou que a polícia russa tem dedicado seu tempo “a outras coisas” ao invés de combater a violência no país.

Entre as “outras coisas” sugeridas por Sobchak, estão novas leis que visam aumentar a perseguição do Estado contra críticos de Putin, como uma que estipulou sentenças de até 15 anos para quem divulgar “fake news” sobre os militares russos.

Tudo, claro, dentro da definição particular do Kremlin – que não permite que a invasão à Ucrânia seja chamada de guerra, apenas de “operação militar especial”.

Em julho do ano passado, uma adolescente de 17 anos foi morta pelo ex-namorado na cidade de Novosibirsk. “A mãe da estudante havia avisado a polícia três vezes que o agressor havia ameaçado matar sua filha”, declarou Sobchak. “Estou com tanta raiva. Deus, me dê forças... é uma desgraça.”

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Pesquisadores alertaram, entretanto, que é necessário esperar os próximos anos para aferir uma tendência estável dos efeitos diretos e indiretos da guerra da Ucrânia na criminalidade russa.

“Se houver um aumento [duradouro] na criminalidade, isso significa que há pré-requisitos sociais, mas não podemos dizer quais são agora”, disse o advogado e ex-investigador Igor Markelov ao Kommersant.

Em novembro, o site de notícias russo RBC já havia noticiado que os crimes envolvendo armas de fogo aumentaram quase 30% na Rússia entre janeiro e outubro de 2022 na comparação com o mesmo período no ano anterior. Nas regiões de Kursk e Belgorod, foram registradas as maiores variações, de 675% e 213%, respectivamente.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]