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América do Sul

Guiana, um dos países que mais crescem no mundo, teme a maldição do petróleo

Georgetown, capital da Guiana: governo projeta que a economia do país deve crescer quase 50% este ano, mas quando o petróleo é retirado da conta, a variação deve ser de menos de 8% (Foto: Wikimedia Commons)

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Segundo país menos populoso da América do Sul, a Guiana vive um momento de transformação na sua economia. Em 2015, a empresa americana ExxonMobil descobriu grandes reservas de petróleo no mar territorial guianense, riqueza cuja exploração está fazendo a pequena ex-colônia britânica de menos de 800 mil habitantes – cujas atividades econômicas principais eram a produção de açúcar e arroz e a mineração – se tornar um dos países que mais crescem no mundo.

Em 2020, o Produto Interno Bruto (PIB) guianense teve o maior crescimento do planeta, ao sofrer um incremento de 43,5%. No ano passado, a evolução da economia da Guiana continuou entre as maiores do mundo, ao crescer 19,9%.

Segundo dados do Financial Times, a produção de petróleo bruto, que começou em 2019, deve atingir 340 mil barris por dia este ano, e a projeção do governo guianense é que ultrapasse 1 milhão de barris por dia em três anos.

Se o futuro parece promissor, entretanto, a Guiana teme a maldição do petróleo – como é chamado o fenômeno em que reservas abundantes da commodity não geram desenvolvimento para o país, com riquezas desperdiçadas pela corrupção, pela burocracia e pela incapacidade de diversificar a economia e levar melhores condições de vida à maior parte da população.

Avantika Chilkoti, correspondente internacional da revista inglesa The Economist, esteve recentemente na Guiana e constatou que o petróleo já gera efeitos em outros setores da economia do país, como maior demanda por transporte e investimentos na construção civil. Mas o pequeno país sul-americano conseguirá cumprir o potencial transformador que suas reservas anunciam?

“O povo guianense não precisa olhar para longe para ver como o petróleo pode ser uma maldição para a economia. A oeste, eles têm a Venezuela, onde o petróleo bancou a ditadura corrupta socialista. Também são vizinhos de Trinidad e Tobago, onde o otimismo por causa do petróleo foi grande por um tempo, mas levou ao crime e a tensão social”, afirmou Chilkoti, em um podcast da Economist.

A jornalista salientou que a produção de petróleo em alto mar é uma indústria altamente especializada, “então só é necessária uma pequena equipe de manutenção, grande parte do trabalho é feita por máquinas”.

“Não serão utilizados empreendimentos locais, porque só há algumas companhias no mundo que produzem dutos e ferramentas adequados para o serviço. Um grande risco para que esse boom do petróleo dê errado é a corrupção”, acrescentou Chilkoti, mencionando as divisões políticas na Guiana.

O governo guianense projeta que a economia do país deve crescer quase 50% este ano, mas quando o petróleo é retirado da conta, a variação deve ser de menos de 8%.

Planos de infraestrutura incluem o Brasil

Em entrevista ao Financial Times, o presidente Irfaan Ali destacou que estão ocorrendo investimentos com o dinheiro do petróleo para diversificar a economia guianense e trazer o sonhado desenvolvimento.

“Não estamos apenas investindo em saúde e educação para atender às necessidades dos guianenses, mas também como importantes geradores de moeda estrangeira no futuro para que a Guiana possa se tornar um centro de saúde e educação para a América do Sul, o Caribe e a enorme diáspora que reside na América do Norte”, declarou.

Ali também destacou planos de infraestrutura que incluem o Brasil, como um projeto com a operadora Abu Dhabi Ports de um porto de águas profundas na Guiana que serviria ao norte do país vizinho e uma rodovia de ligação com a maior economia da América do Sul.

Em setembro, a Guiana deve fazer a próxima rodada de licenciamentos para exploração de novos blocos de petróleo e busca parcerias para criar e administrar uma empresa petrolífera estatal.

A ideia surgiu porque a avaliação é de que o contrato com a ExxonMobil poderia ter sido mais vantajoso para o país: um relatório da ONG Global Witness de 2020 apontou que a Guiana teria perdido até US$ 55 bilhões no acordo com a empresa americana.

Mas o governo também cogita um leilão, do qual devem ser excluídas a ExxonMobil e suas parceiras, a também americana Hess Corporation e a chinesa CNOOC, que controlam toda a produção petrolífera no país hoje. Os próximos passos podem ser decisivos para que a Guiana evite a maldição do petróleo – ou seja mais um a ser assombrado por ela.

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