Familiares de desaparecidos durante o cerco ao Palácio da Justiça protestam em Bogotá, em novembro de 2021| Foto: EFE/Carlos Ortega
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A guerrilha M-19 (sigla para Movimento 19 de Abril) foi criada na Colômbia em 1974; a data do seu nome faz referência ao dia da eleição presidencial de 1970, cuja suposta fraude teria sido a motivação para a criação do grupo.

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Seu nome se tornou mais comum no noticiário internacional nos últimos meses, já que o presidente eleito do país, Gustavo Petro, fez parte da guerrilha. O grupo guerrilheiro de esquerda esteve ativo até 1990, e cinco anos antes realizou a ação pela qual é mais lembrado até hoje.

Em 6 de novembro de 1985, 35 integrantes da M-19 invadiram o Palácio da Justiça, em Bogotá, e tomaram como reféns cerca de 300 pessoas, entre advogados, juízes e funcionários do Judiciário.

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A ação dos guerrilheiros foi uma resposta ao presidente Belisario Betancur, por supostamente desrespeitar uma trégua acertada entre o governo colombiano e a M-19 no ano anterior. Ao longo do cerco, que durou 28 horas e só terminou quando as forças de segurança retomaram o controle do prédio, a sede da Suprema Corte colombiana se transformou num inferno de fogo, tiros e explosões.

A imagem mais emblemática do cerco ao Palácio da Justiça é a de um tanque invadindo o prédio, que foi incluída na série “Narcos”, da Netflix.

A série, que nas duas primeiras temporadas retratou o cartel de Medellín e seu líder, Pablo Escobar, reforça a tese de que os traficantes colaboraram com a M-19 para que processos contra eles fossem destruídos.

Entretanto, entre os mais de 6 mil processos destruídos no incêndio do Palácio da Justiça, também havia registros de ações contra militares por violações de direitos humanos, conforme apontou a jornalista Ana Carrigan no livro “O Palácio da Justiça: uma tragédia colombiana”.

Embora a colaboração entre o cartel e a M-19 nunca tenha sido totalmente esclarecida, a Comissão da Verdade colombiana apontou em seu relatório sobre o cerco, publicado em 2009, que essa parceria ocorreu.

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Anos depois da invasão, Petro negou colaboração com o cartel de Medellín. “A M-19 nunca esteve ligada ao tráfico de drogas. Podem nos acusar pela nossa responsabilidade no [ocorrido no] Palácio da Justiça, mas a raiva leva outros a nos caluniar”, alegou.

Petro estava preso quando a invasão ocorreu: ele esteve detido pelo Exército colombiano entre outubro de 1985, acusado de posse ilegal de arma, e fevereiro de 1987.

Embora não se saiba o número exato de vítimas, já que ainda há desaparecidos, a invasão ao Palácio da Justiça resultou na morte de cerca de cem pessoas, 12 delas juízes, incluindo o presidente da Suprema Corte, Alfonso Reyes Echandía.

Ainda há discussão na Colômbia sobre quem teve maior responsabilidade pelo massacre. Relatos de sobreviventes apontam que, a certa altura do cerco, os guerrilheiros reuniram cerca de 70 reféns que permaneciam em seu poder em um banheiro do palácio. Versões conflitantes apontam para execuções praticadas pelos guerrilheiros e disparos realizados do lado de fora por militares e policiais.

Em entrevista à BBC quando o massacre completou 30 anos, a promotora Ángela María Buitrago, que liderou a investigação sobre os desaparecidos, disse que muitas das armas e das balas utilizadas foram retiradas do local. “São elementos que nunca poderão ser recuperados”, afirmou. Corpos carbonizados também foram encontrados ao fim do cerco.

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Nenhum guerrilheiro foi condenado pela Justiça pela invasão. Em 1990, o Tribunal Superior de Bogotá arquivou os processos que tramitavam contra membros da M-19, já que a guerrilha havia aceitado um acordo de paz e seus membros foram anistiados. Em 2017, o irmão de um policial morto no episódio de 1985 solicitou a anulação desse perdão à Suprema Corte, mas o pedido foi negado.

Em 2010, o coronel da reserva Luis Alfonso Plazas Vega foi condenado a 30 anos de prisão por seu suposto papel em desaparecimentos forçados durante o cerco, mas em 2015 ele foi inocentado pela Suprema Corte colombiana.

No mesmo ano, o então presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, cumpriu medida de reparação determinada pela Corte Interamericana de Direitos Humanos e pediu perdão pelos desaparecimentos, mortes e torturas durante o episódio de 1985. Depois, em 2019 e 2021, outros seis militares foram condenados a penas de 35 a 40 anos de prisão.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]