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O que está motivando, de fato, a disputa entre as duas Coreias?

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Há aí três fatores principais. O primeiro é que a Coreia do Norte está testando a tolerância dos EUA e da Coreia do Sul. Está testando o limite de tolerância desses dois países em relação às suas investidas militares e seu avanço estratégico. O segundo fator é a questão da sucessão de Kim Jong-il [atual líder norte-coreano], que passará o poder para seu filho mais novo. O líder supremo da Coreia do Norte está tentando passar uma imagem para a comunidade internacional de que ele não está afetado, que o regime não se abalou por essa sucessão ou transmissão de poder. Ao mesmo tempo ele resolve disputas internas com esse tipo de ação, ao fazer os militares e as facções diversas olharem para um inimigo externo comum. A terceira razão é o comportamento básico da Coreia do Norte que se dá pela questão de usar esse tipo de estratégia como uma fonte de barganha. Então ele cria um problema para poder sentar na mesa e negociar uma solução.

Há algum perigo dessa disputa se transformar num conflito nuclear?

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Não diria nuclear, porque a Coreia do Norte – apesar de ter uma bomba atômica – não tem a capacidade de empregar essa bomba. Ela tem um dispositivo capaz de criar uma explosão atômica, mas ela não consegue miniaturizar essa bomba e colocá-la dentro de um míssil e lançar isso de forma eficiente, como uma arma. As forças norte-coreanas têm uma bomba, que é um artefato nuclear, mas não têm uma arma atômica.

E como pode evoluir esse confronto? O que poder vir a acontecer?

Pode se tornar uma guerra de grandes proporções, de grande escala, um confronto brutal mesmo. Isso é bem possível porque temos uma situação bem específica na região, na península, na qual nunca foi assinado um tratado de paz. Então, tecnicamente, as duas Coreias estão em guerra.

O que isso significa na prática?

Que você tem dois exércitos de prontidão, estacionados, de stand by ali na fronteira. Ou seja, qualquer deslize, qualquer erro ou provocação à violência pode tomar uma escalada muito rápida, facilmente. Contrário a qualquer outro conflito onde você tem algum tipo de agressão ou incidente, até você mobilizar as forças militares e se preparar para a guerra você tem tempo para reflexão, diplomacia, negociação e até esfriar os ânimos. Mas nesse caso não, então qualquer cuidado é pouco .

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Por que a ONU não interveio ainda no conflito?

A ONU não está se intrometendo porque sabe que sua intervenção não tem força suficiente para trazer nenhuma mudança de comportamento. A ONU não tem capacidade de impor ou influenciar o comportamento da Coreia do Norte. Todas as negociações com a Coreia do Norte são feitas pelo Grupo dos Seis [China, Rússia, Japão, Estados Unidos, Coreia do Sul e Coreia do Norte]. Sendo assim, a ONU não é a plataforma ideal para debater esse assunto, pois a entidade sofre de um problema de falta de instrumentos para coagir um país a agir da forma que ele deveria agir. Dificilmente nessa situação ela seria o ator que faria alguma diferença nesse conflito.

Como os Estados Unidos poderiam intervir nessa disputa?

Os EUA estão numa posição muito delicada e nada positiva. A Coreia do Norte está brincando com essa posição porque a percepção desses países, dessas ditaduras – como Coreia do Norte, Irã e outras – é que o Obama [presidente dos Estados Unidos] é um líder que escolheu, por essência, não usar da força. Quando você tem essa garantia, é lógico que você vai tirar proveito dela. E é isso que a Coreia do Norte está fazendo.

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