Da mesma forma que o mundo reflete sobre o destino do Egito após Hosni Mubarak, os norte-americanos deveriam refletir sobre a seguinte questão: é bem provável que se Mu­­ba­­rak não tivesse sido o ditador do Egito nos últimos 30 anos, o World Trade Center ainda estaria em pé.

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Em "O Vulto das Torres", sua história sobre a Al-Qaeda, o jornalista Lawrence Wright defende a possibilidade de que "a tragédia norte-americana de 11 de setembro começou nas prisões do Egito". Ao fazer uso do aprisionamento, tortura e exílio da Irmandade Muçulmana do Egito, Mubarak evitou qualquer possibilidade de ter uma revolução islâmica em seu próprio país. Todavia, ele também contribuiu para radicalizar e internacionalizar os islamitas do Egito, retirando do cenário político nacional homens como Ayman Al-Zawahiri – tenente-general da armada de Osama Bin Laden, e, supostamente, o cérebro pensante por trás da Al-Qaeda – e os atirando ao extremismo islâmico.

Ao mesmo tempo, o relacionamento de Mubarak com Washington ofereceu constantes justificativas para a visão mundial do extremismo. Sob o poder do ditador, o Egito recebeu mais dólares do que qualquer outro país além de Israel. Para muitos jovens egípcios, inquietos com a estagnação política e econômica, não foi muito difícil pegar parte do ódio que sentem por seu ditador e transferi-lo para seus patronos nos Estados Unidos. Um dos que fez isso foi o estudante de Arquitetura Mohamed Atta, que estava na cabine de comando da aeronave quando o voo 11 da American Airlines colidiu com o World Trade Center.

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Tais razões parecem ser boas o suficiente para torcer pela possível queda de Mubarak, e também pelo fim do envolvimento dos EUA com seu regime repressivo e prostituído, que já dura décadas.

Infelizmente, a política no Oriente Médio nunca é tão simples. Os EUA apoiaram Mubarak por tanto tempo devido a dois medos inter-relacionados: o medo de outro Khomeini e o medo de outro Nasser. Ambos os medos ainda são completamente legítimos atualmente.

O primeiro medo todo mundo entende, visto que ainda convivemos com a tirania religiosa imposta pelo aiatolá Khomeini no Irã em1979, sufocando o nascimento de uma revolução espontânea em nada parecida com a que vemos atualmente no Cairo e em Alexandria.

O segundo medo não possui ressonância imediata, visto que a morte de Gamal Abdel Nasser foi há 40 anos. Todavia, a última vez que uma revolução popular derrubou um regime corrupto na terra dos faraós (o ano foi 1952), Nasser foi o grande beneficiário – e Washington viveu para se arrepender do dia em que ele tomou o poder.

Os americanos não gostam de admitir isso. Mas a história faz os EUA de tolos. Os americanos fazem acordos com ditadores, e ficam com as tempestades do terrorismo. Promovem a democracia, e veem os islamitas ganharem forças do Iraque à Palestina. O único consolo ao assistir a luta dos egípcios pelo futuro de seu país, é saber que algumas escolhas não são dos EUA.

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Tradução: Thiago Ferreira