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Porto Príncipe (AE) – As Nações Unidas já trabalham com a hipótese de as eleições no Haiti fracassarem, tamanha a imprevisibilidade das urnas. Na corrida eleitoral há 32 candidatos à Presidência, uma desconhecida mas já reduzida participação de eleitores e fatores de instabilidade latentes.

O Haiti vive uma situação de relativa tranqüilidade, mas é difícil prever o dia seguinte em uma nação com tantos grupos armados. Por isso, as eleições viraram uma incógnita. Tanto que podem ser a comprovação do fracasso da ONU e dos brasileiros na liderança da missão como o primeiro passo na formação de um governo legítimo no Haiti.

A Minustah foi criada para cumprir um mandato claro: estabilizar o país, permitir a realização de eleições democráticas e desarmar os haitianos. A última meta já foi deixada de lado.

"O Haiti no dia seguinte das eleições vai ser bastante parecido com o de hoje", diz o embaixador chileno Juan Gabriel Valdés, chefe da missão de paz da ONU, sinalizando um futuro nebuloso.

As eleições serão marcadas pela desigualdade, uma vez que não há financiamento público de candidatos. O político que tiver mais recursos contará com propaganda nas rádios, outdoors, muitas vezes controladas por eles mesmos, e cabos eleitorais. Quem não tem terá de apelar para o carisma e as pichações que já brotam por toda a parte.

O fantasma que atormenta o Comitê Eleitoral Provisório (CEP), responsável pela organização das eleições, é a participação popular. A previsão inicial era de 4,5 milhões de eleitores. Hoje, se houver 3 milhões de inscritos já será uma vitória. Em um país onde metade da população é analfabeta, muitos desconhecem até mesmo que haverá eleições.

Desde o fim de fevereiro de 2004, o Haiti vive uma situação de grave instabilidade política. Grupos rebeldes forçaram a saída do presidente Jean-Bertrand Aristide, com apoio dos EUA e França, que em seguida enviaram tropas. Quatro meses depois, a ONU iniciava a sua missão de paz. E a partir daí o Brasil se envolveu numa arriscada tarefa diplomática ao aceitar liderar uma força militar na nação mais pobre das Américas.

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