Porto Príncipe (Reuters) A apuração dos votos da eleição presidencial haitiana foi interrompida ontem, mais de uma semana depois da eleição, devido às acusações de fraude eleitoral feitas pelo candidato René Préval, que lidera a contagem. A descoberta de uma pilha de cédulas queimadas num depósito de lixo em Porto Príncipe reforçou as suspeitas de fraude, levantadas por Préval, um ex-presidente que já foi aliado do último mandatário eleito do país, Jean-Bertrand Aristide, que deixou o poder sob forte pressão das elites há dois anos. Com 90% dos votos apurados oficialmente, Préval liderava com 48,7%, um pouco menos do que a maioria simples necessária para que ele evite o segundo turno.
Michel Brunache, chefe do Estado-Maior do presidente Boniface Alexandre, afirmou que o governo interino pediu ao Conselho Eleitoral Provisório que não publique os resultados finais da eleição, enquanto uma comissão formada por integrantes do conselho e assessores de Préval não examinar as acusações do candidato líder. "Há gente furiosa, disposta a colocar fogo no país", disse Brunache. Não estava claro quanto tempo a revisão da apuração durará, nem se a providência será capaz de evitar uma nova onda de protestos de rua, como aconteceu na segunda-feira. Com medo que a situação se deteriore, o Brasil, que lidera a missão de paz da Organização das Nações Unidas (ONU) no Haiti, pediu que Préval seja declarado vencedor definitivo das eleições (veja abaixo). Préval, que conquistou um apoio apaixonado nas favelas haitianas, disse na terça-feira que uma "fraude maciça" o impediria de ganhar no primeiro turno. Ele não deu detalhes nem evidências, mas o Haiti está cheio de boatos de irregularidades na votação. Em segundo lugar na apuração, com 11,8%, está Leslie Manigat, outro ex-presidente, cujo curto mandato foi interrompido em 1988 por um golpe militar.
Max Mathurin, presidente do conselho eleitoral, disse esperar que a comissão solucione a questão com rapidez. "Se houve fraude, ela ocorreu no nível das seções eleitorais, não aqui", disse. Houve uma grande proporção de votos em branco, 4,7%, apesar de haver 33 candidatos a presidente. Esses votos foram considerados válidos. Sem os votos em branco, Préval estaria com mais de 51% dos votos. Embora os votos em branco sejam uma forma de protesto tradicional em democracias sofisticadas, é difícil imaginar que haitianos tenham caminhado vários quilômetros até as seções eleitorais e enfrentado filas de até oito horas para deixar a cédula em branco.
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