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análise

Haiti vira teste para Obama na América Latina

A crise humanitária no Haiti representa para Barack Obama uma nova oportunidade de se aproximar da América Latina, depois de um turbulento começo de mandato como presidente dos EUA em 2009.

Especialistas dizem que Washington poderia unir forças a várias nações latino-americanas para a reconstrução de Porto Príncipe, cidade devastada pelo terremoto do dia 12, que deixou até 200 mil mortos e 1,5 milhão de desabrigados.

"O Haiti oferece uma oportunidade para que o governo Obama busque novas formas de trabalhar com a América Latina para ajudar a nação mais golpeada e vulnerável", disse Shannon O'Neil, do Conselho de Relações Exteriores, entidade com sede em Nova York.

Os EUA mobilizaram 13 mil soldados como parte de um enorme esforço para ajudar as vítimas do terremoto, reforçar a segurança na capital haitiana e acelerar o fluxo de assistência humanitária a milhões de sobreviventes no país mais pobre das Américas.

"Uma das coisas que a máquina militar dos EUA melhor faz, e quase todos os países apreciam, são os resgates notáveis, a recuperação e a reconstrução diante de desastres naturais", comentou O'Neil.

Mas as imagens do porta-aviões USS Carl Vinson ancorado na costa de Porto Príncipe e de helicópteros Black Hawk descarregando marines nos jardins do destruído palácio presidencial levaram o presidente venezuelano, Hugo Chávez, a denunciar uma "ocupação militar" do Haiti.

Especialistas dizem, no entanto, que a atuação de Obama no Haiti pode ajudá-lo a recuperar o terreno perdido no ano passado na América Latina, onde seu apoio às eleições como saída para um golpe militar em Honduras irritou aliados cruciais, como o Brasil.

Michael Shifter, analista do centro de estudos Diálogo Interamericano, de Washington, adverte contra um excesso de expectativas.

"Esta é uma oportunidade para que o governo dos Estados Unidos responda de uma forma construtiva ante uma situação de emergência," disse. "E, embora a resposta de Washington ao Haiti possa gerar boa vontade para com os EUA, não será suficiente para compensar a decepção dos últimos meses."

Obama prometeu no ano passado um "novo começo" com a América Latina, uma região que durante décadas os EUA trataram como quintal, mas que perdeu espaço na sua agenda de política externa durante o governo de George W. Bush.

Logo nos primeiros meses do governo Obama, porém, as discordâncias acerca de Honduras e a ampliação das operações militares norte-americanas na Colômbia deixaram o ambiente tenso.

No Haiti, os soldados dos EUA restabeleceram o controle do tráfego aéreo para a chegada de voos humanitários, trabalham na reabilitação do porto marítimo e distribuem comida em acampamentos de sobreviventes.

"É claramente um esforço para demonstrar os bons usos das forças armadas dos Estados Unidos", disse Christopher Sabatini, especialista em América Latina do Conselho das Américas, também de Washington.

Mas Sabatini acha que, para evitar problemas, Washington deveria transferir o controle das operações no Haiti a um organismo internacional como a ONU, e ceder parte das suas responsabilidades a outros atores latino-americanos, como Brasil, Argentina, Chile ou Uruguai.

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