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Curitiba – Com metade da população palestina vivendo na pobreza e a taxa de desemprego na região batendo na casa dos 22%, o grupo radical Hamas que venceu as eleições parlamentares palestinas realizadas em janeiro, pediu esta semana que a comunidade internacional mantenha as doações para a estrutura da Autoridade Palestina (AP) nos dois territórios que os árabes sonham em ver transformado em Estado: Gaza e Cisjordânia. A ameaça de corte se dá em razão do histórico terrorista do Hamas e de sua antiga bandeira: a destruição de Israel.

A União Européia, principal fonte de recursos da AP (foram 280 milhões de euros em 2005), anunciou que manterá o envio de recursos até que o novo governo palestino seja formado, mas a continuação da ajuda vai depender do cumprimento de três exigências pelo Hamas: renúncia ao terror, política compatível com os acordos estabelecidos em Oslo em 1993 e o reconhecimento de todos os acordos firmados pela AP nos últimos anos.

Já os EUA suspenderam os novos projetos após a vitória do Hamas, enquanto Israel deixou de transferir os impostos alfandegários destinados aos palestinos. Como saída ao impasse, o grupo passou a procurar outras fontes de financiamento no mundo árabe. Os impostos recolhidos por Israel são a principal renda do orçamento da AP para o pagamento de 140 mil funcionários públicos.

A situação é a mais previsível possível, uma vez que os recursos internacionais para os palestinos vinham como ajuda e incentivo para o relacionamento com Israel, analisa Gilberto Sarfati, mestre em Relações Internacionais pela Universidade Hebraica de Jerusalém e professor das Faculdades Integradas Rio Branco em São Paulo. "É uma forma de pressionar o Hamas a reconhecer Israel".

Berlinda

Sarfati lembra ainda um outro aspecto da chegada do Hamas ao poder: em caso de atentado de outros grupos militantes, como a Jihad Islâmica, o Hamas ficará em posição difícil: como governo, o Hamas não poderá apoiar a ação, mas também não terá, por seu histórico, condições de condená-la. "Israel terá de responder aos ataques e se entra no ciclo de violência novamente."

O marroquino Nizar Messari, professor de Relações Internacionais da PUC-RJ, diz que o corte de doações é também uma medição de forças. Os impostos que costumavam ser repassados por Israel à AP não poderiam ser alvo de cortes, lembra, porque estão previstos no acordo de Oslo. Por sua parte, o Hamas viola o acordo ao não aceitar o Estado de Israel. "A viabilidade da AP fica em jogo sem a ajuda externa. Mas a UE ficará impossibilitada de contribuir caso o Hamas cometa atentados", diz Messari.

Sarfati acredita que após a institucionalização do governo do Hamas, o grupo vai pressionar a UE por mais recursos. A tendência é o Hamas abandonar o terror. "A base eleitoral do Hamas espera que a qualidade de vida deles melhore. Ou seja, terão de correr atrás de recursos.

A política dos EUA, UE e Israel em forçar o Hamas a mudar de posição terá de se encaminhar pelo diálogo e não por medidas radicais, que constrangem a AP, comenta Tullo Vigevani, cientista político da Unesp. Em relação ao Brasil, a previsão de Vigevani já se concretizou: o Hamas anunciou esta semana que pediria ajuda ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva.

O Hamas tende à moderação, mas adotará uma postura mais dura de negociação se comparado a Arafat e ao Fatah, diz Messari. "Os palestinos estão em encruzilhada. A opção armada não deu certo, assim como a via de negociação nos últimos 15 anos. Não sabem mais o que fazer." Agora a comunidade internacional terá de sentir o que será o governo do Hamas, que também precisará fazer concessões.

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