Boca de urna apontava vitória de Obrador por mais de 50% dos votos| Foto: Cesar Rodriguez/Bloomberg

Com a promessa de ir “contra a máfia do poder”, Andrés Manuel López Obrador, 64, foi eleito presidente do México neste domingo (1º), na primeira vitória de um esquerdista em um país que nos últimos anos optou pela centro-direita.

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Mesmo antes de os resultados oficiais serem divulgados, seus dois principais rivais na disputa à Presidência, José Antonio Meade e Ricardo Anaya, reconheceram a derrota. O comportamento dos rivais é explicado pelas pesquisas de boca de urna. Uma “contagem rápida” oficial previu que López Obrador ganharia entre 53% e 53,8% dos votos, de acordo com a agência eleitoral nacional.

Após perder de modo apertado as eleições presidenciais de 2006 e 2012, AMLO tornou-se o favorito neste pleito por causa sobretudo dos problemas internos prementes do México: os mais citados são corrupção, violência, pobreza.

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AMLO pegou carona nesse ambiente de voto de castigo contra o atual presidente, Enrique Peña Nieto, e o establishment mexicano.

A aprovação de Peña Nieto está em 20%, e em queda, após escândalos de corrupção na alta cúpula, fracasso em diminuir a desigualdade, aumento da violência e resignação diante dos ataques do vizinho do norte, o presidente Donald Trump.

A desigualdade no México é de fato um imenso problema. Apesar de ser a 15ª economia do mundo, quase metade da população vive na pobreza.

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López Obrador foi eleito com a promessa de reduzir a desigualdade e aposta, para isso, em programas sociais, aumento do salário mínimo e maior participação do Estado no setor petroleiro --uma das iniciativas de Peña Nieto foi privatizar parcialmente a Pemex (a Petrobras local).

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Uma das dúvidas que surgem é como López Obrador, que já prometeu não elevar impostos, vai dar conta desses compromissos, sem pôr em risco as contas públicas: a dívida pública do país representou em 2017 54% do PIB, ante 84% no Brasil, segundo o FMI.

Congresso

A disputa mexicana definirá também um novo Congresso, câmaras regionais, mais de 1.600 prefeituras e nove dos 32 governadores, entre eles o cargo de chefe de governo da Cidade do México, que tem status de estado --pesquisas apontam que a capital terá pela primeira vez uma chefe mulher: Claudia Sheinbaun, do mesmo partido de AMLO.

Com tantos postos em disputa, alguns eleitores demoravam até dez minutos para preencher todos as cédulas. No México, o voto é obrigatório, embora não exista penalidade para quem não compareça -89 milhões de pessoas estavam aptas a votar.

Ao que tudo indica, Obrador terá a maioria no Congresso. Na contagem parcial de votos para o Senado e a Câmara de Deputados, a coligação do presidente eleito também saiu na dianteira.

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Discurso

Em um breve discurso de vitória, Obrador pediu “reconciliação” aos mexicanos. AMLO disse que “as mudanças serão profundas, mas com apego à ordem legal estabelecida. Não haverá expropriação nem apropriação de bens”.

E acrescentou: “haverá liberdade empresarial, de expressão, civis e políticos”. Disse que o novo governo “manterá a disciplina fiscal e respeitará os tratados e contratos assumidos antes”. Disse estar convencido de que a “corrupção desatou a violência em nosso país, portanto combater a corrupção será prioridade”.

O presidente eleito também disse que vai respeitar a autonomia do Banco do México (o banco central do país) e atuar com rigor fiscal.

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Mortes

Apesar do clima de tranquilidade no horário de votação, houve episódios de violência registrados.

Em Quintana Roo, um dos estados mais afetados pela violência, mais um jornalista foi assassinado a tiros, num bar, na madrugada do sábado (30).Trata-se de José Guadalupe Chan Dzib, 35, o sexto jornalista morto no México neste ano. Em 2017 foram 12, e, em todo o período de Peña Nieto, 42. Nenhum responsável até agora foi preso.