Resultado do colapso de estrelas gigantes, os buracos negros têm uma gravidade tão poderosa que nem a luz consegue escapar deles. Assim, tudo que fosse consumido por estes monstros cósmicos deixaria para sempre nosso Universo. Mas embora tal efeito seja permitido pela Relatividade Geral de Albert Einstein, ela contraria uma das leis básicas da mecânica quântica, segundo a qual as informações sobre o estado físico de uma partícula não podem ser perdidas, mesmo que elas sejam engolidas por um buraco negro.
Este chamado “paradoxo das informações”, que contrapõe duas das principais teorias que usamos para explicar o Universo onde vivemos, tem desafiado os cientistas há décadas, e agora o renomado físico britânico Stephen Hawking apresentou em uma série de palestras na Suécia duas possíveis soluções para o problema: ou os buracos negros são uma passagem para outro Universo; ou estas informações ficam armazenadas como um holograma na fronteira deles, o chamado horizonte de eventos, retornando ao nosso Universo, ainda que de forma irreconhecível, à medida que lentamente “evaporam”.
“A existência de histórias alternativas com buracos negros sugerem que isso (viajar para outro Universo) seria possível”, disse Hawking na noite desta segunda-feira (24) durante sua primeira apresentação com parte da Conferência sobre a Radiação Hawking, o mecanismo pelo qual os buracos negros “evaporam” descoberto justamente pelo físico britânico, que acontece no Real Instituto de Tecnologia KTH, em Estocolmo. “O buraco teria que ser grande e se ele estiver girando talvez tenha uma passagem para outro Universo. Então, se você cair num buraco negro, não desista. Há uma saída. Mas você não poderia voltar para nosso Universo. Assim, embora eu seja um fã dos voos espaciais, não vou tentar fazer isso.”
Já na sua segunda palestra nesta terça-feira (25), Hawking detalhou outra forma com a qual acredita seria possível solucionar o paradoxo das informações. Trabalhando em conjunto com Malcolm Perry, professor da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, e Andrew Stromberg, da Universidade de Harvard, nos EUA, ele chegou à conclusão de que as informações sobre o estado quântico nas partículas que formam ou caem no buraco negro podem não chegar a entrar neles, permanecendo em sua borda como um holograma em duas dimensões no horizonte de eventos, no que chamaram de “supertraduções” deste estado.
“A ideia é que estas supertraduções são como hologramas das partículas entrantes”, explicou. “Desta forma, eles contêm todas informações que de outra forma seriam perdidas. Estas informações são então emitidas pelas flutuações quânticas produzidas pelos buracos negros (a Radiação Hawking), embora de forma caótica e inútil. Para todos propósitos práticos, as informações se perderam. A mensagem destas palestras é que os buracos negros não são tão negros quanto pintamos eles. Eles não são as prisões eternas que outrora pensamos.”