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Os Estados Unidos acusaram nesta quinta-feira (21) o ex-presidente hondurenho Juan Orlando Hernández de operar Honduras como um "narcoestado" e de usar propinas que recebeu de traficantes de drogas, como Joaquín Guzmán, conhecido por "El Chapo", para fraudar as duas eleições que disputou. Hernández foi extraditado na quinta aos EUA, onde fará a sua aparição inicial nesta sexta-feira (22), perante o juiz Stewart D. Aaron, em Nova York.
Horas após Hernández decolar rumo a Nova York, onde será julgado, o Departamento de Justiça americano divulgou a acusação completa contra o ex-mandatário. Segundo o documento de mais de 20 páginas, o ex-líder hondurenho fez parte de uma conspiração para transportar aos EUA mais de 500 toneladas de cocaína procedentes de Colômbia, Venezuela e outros países.
"Hernández abusou de sua posição como presidente de Honduras entre 2014 e 2022 para operar o país como um narcoestado", declarou o procurador-geral dos EUA, Merrick Garland, em entrevista coletiva em Washington.
O documento de acusação aponta que "Hernández utilizou estas receitas do tráfico de drogas para enriquecer, financiar as suas campanhas políticas e cometer fraudes eleitorais, inclusive nas eleições presidenciais de 2013 e 2017".
Os EUA alegam que, em 2013, Hernández recebeu uma "propina de US$ 1 milhão" do traficante de drogas mexicano Joaquín "El Chapo" Guzmán, então líder do cartel de Sinaloa, "em troca de uma promessa de proteger" esse grupo em Honduras.
"Hernández ordenou então aos seus aliados na conspiração que viajassem a várias partes de Honduras para subornar funcionários para manipular votos para que ele se tornasse presidente", disse o procurador do Distrito Sul de Nova York, Damian Williams, em entrevista coletiva.
Como resultado das suas relações com traficantes de droga, o ex-presidente "corrompeu as instituições legítimas de Honduras, incluindo partes da Polícia Nacional Hondurenha, das Forças Armadas e do Congresso Nacional", e transformou o seu país em um "dos maiores pontos de embarque de cocaína para os EUA no mundo", afirma o documento.
Williams alegou que, durante uma reunião, Hernández declarou que queria "encher o nariz dos gringos de drogas", e que também aceitava subornos de traficantes de drogas e "comprava votos" para ganhar a reeleição nas controversas eleições de 2017.
Tripla acusação
O ex-mandatário, de 53 anos, foi detido na sua residência em Tegucigalpa em 15 de fevereiro, um dia após os Estados Unidos terem solicitado a sua "prisão provisória" para efeitos de extradição, e desde então está preso em uma unidade especial da Polícia Nacional. Ele foi extraditado nesta quinta-feira aos Estados Unidos, país onde responde a três acusações relacionadas a tráfico de drogas e uso de armas, um feito inédito na história de Honduras.
Hernández foi entregue a integrantes da Agência Antidrogas dos EUA (DEA, na sigla em inglês) na Base Aérea Hernán Acosta Mejía, à qual foi levado de uma instalação policial em um helicóptero da Força Aérea Hondurenha, pelo ministro da Segurança, Ramón Sabillón.
Minutos antes da extradição, a esposa de Hernández, Ana García, divulgou uma mensagem em vídeo do ex-presidente, na qual dizia: "Sou inocente, fui e estou sendo submetido a um processo injusto".
Ainda não se sabe qual sentença a acusação pedirá contra ele, mas o Departamento de Justiça antecipou algumas possibilidades.
Para a primeira acusação que Hernandez enfrenta, de "conspiração para importar" mais de 500 toneladas de cocaína para os Estados Unidos, a pena mínima é de dez anos e a pena máxima é de prisão perpétua, se condenado.
Para a segunda, de utilizar e possuir metralhadoras e dispositivos destrutivos para apoiar a importação de cocaína, ele pode receber um mínimo de 30 anos e um máximo de prisão perpétua. Para a terceira, de "conspirar para usar" tais armas, a pena máxima é também a prisão perpétua.