SEUL - O cientista sul-coreano líder nas pesquisas de clonagem humana para obtenção de células-tronco pediu desculpas publicamente nesta quinta-feira pelo que julga terem sido violações da ética em suas experiências. Numa entrevista coletiva dada em tom solene e constrangido, Hwang Woo-suk contou que duas integrantes de sua equipe doaram óvulos para seus estudos. A revelação se soma à polêmica suscitada por um médico nesta semana, ao confessar o pagamento do equivalente a US$ 1.450 a 16 mulheres que doaram óvulos para a pesquisa para clonagem terapêutica encabeçado por Hwang - mas sem o conhecimento dele.

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- Estou muito, muito sentido de ter que dizer publicamente palavras vergonhosas demais e horríveis - disse Hwang. - Deveria estar aqui relatando sucessos de nossa pesquisa, mas sinto muito que, em vez disso, tenha que pedir desculpas. (...) Muito concentrado no avanço científico, posso não ter visto todas as questões éticas relacionadas à minha pesquisa.

O cientista disse que tomou conhecimento, neste ano, de que as pesquisadoras forneceram óvulos em 2002 e 2003, apesar de ele ter recusado ofertas delas para fazer isso.

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- Naquele tempo, a tecnologia não era tão avançada como hoje e criar uma linhagem de células-tronco requeria oócitos (óvulos). Foi durante esse tempo que minhas pesquisadoras sugeriram fazer doações voluntárias. Eu claramente recusei.

Hwang disse que compreendia a maneira de pensar delas e que, se fosse mulher, talvez tivesse doado óvulos também.

O Ministério da Saúde da Coréia do Sul disse que a doação das pesquisadoras não era criminosa ou antiética para seus padrões. Mas vários países consideram o tipo de doação que as cientistas fizeram uma violação da ética médica, segundo a qual um subordinado não deve ser moralmente coagido à colaboração.

Um especialista em bioética da Universidade Nacional de Seul, onde fica o laboratório de Hwang, disse que o governo pode estar sendo relutante em apontar deslizes éticos e prejudicar a posição hoje privilegiada do país neste campo de pesquisa.

- O Ministério da Saúde está dando prioridade muito alta ao interesse do país, em vez de padrões éticos - disse Jin Kyo-hoon.

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Para se ter uma idéia de como o tema é delicado para a comunidade científica, em meados deste mês um importante pesquisador americano - Gerald Schatten, da Universidade de Pittsburgh - rompeu com uma colaboração de quase dois anos com o grupo de pesquisa sul-coreano, ao suspeitar das denúncias feitas agora. "Minha decisão é baseada somente em preocupações sobre doações de oócitos na pesquisa relatada em 2004 pelo doutor Hwang", disse Schatten num comunicado emitido então, referindo-se à célebre clonagem seguida da obtenção de linhagens de células-tronco.

A primeira resposta de Hwang aos rumores veio no dia 14. Ele disse que suas experiências seguiam rigidamente os parâmetros governamentais, inclusive sobre doação de óvulos. Nesta quinta-feira, seu tom foi oposto:

- Eu sinceramente peço desculpas por ter gerado preocupação em casa e no exterior - disse o cientista.

Ele também anunciou que estava deixando o cargo de presidente do Centro Mundial de Célula-tronco. A entidade foi fundada no mês passado, com pesquisadores de vários países, para a busca de tratamento de males incuráveis e tem planos de abertura de núcleos de clonagem em São Francisco, nos EUA, e em Londres. O pedido de demissão, segundo o cientista, era sua maneira de penitenciar-se.

Hwang Woo-sul até hoje era considerado um herói em seu país e uma recente sumidade na comunidade científica internacional. Sua equipe foi não apenas a primeira a obter linhagens de células-tronco humanas a partir da clonagem, como surpreendeu novamente o mundo neste ano ao apresentar o primeiro clone de um cão - um feito perseguido durante muitos anos por outros grupos científicos, sem sucesso. Recentemente, a revista "Time" elegeu o cão Snuppy a mais impressionante inovação do ano de 2005.

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Com restrições impostas pelo governo dos EUA à clonagem terapêutica, a Coréia do Sul está se tornando rapidamente a líder nesta frente de pesquisa, que promete alternativas promissoras para a cura de várias doenças e a solução de algumas hoje incuráveis. O principal responsável por isso vinha sendo Hwang.