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      Para as famílias dos militares mortos no terremoto que devastou o Haiti, o sentimento de que o familiar morreu por uma causa nobre funciona como paliativo para a dor. Ao falarem sobre a vida de seus filhos, irmãos ou namorados, os parentes destacam o orgulho que as vítimas ti­­nham em servir a uma causa hu­­manitária. Dos 15 mortos confirmados até agora, 14 pertenciam à Missão de Estabilização das Nações Unidas no Haiti. A outra vítima é a pediatra Zilda Arns. Pelo menos quatro militares brasileiros estão desaparecidos.

      Em Santa Maria, no Rio Gran­­de do Sul, a família do primeiro-tenente Bruno Ribeiro Mário relembra os momentos de decisão do jovem de 27 anos ao de­­fender a intervenção militar no Haiti. Quando o oficial contou que serviria nas forças de paz da ONU no Haiti, a família temia a ação das guerrilhas urbanas no país, mas jamais deixou de apoiar a decisão de Bruno.

      Nas conversas com parentes, Bruno se mostrava impressionado com a situação de miséria do povo haitiano. "Ele estava muito feliz por ter cumprido com o seu período em uma missão tão no­­bre", recorda o tio da vítima, Ge­­raldo Luiz Mário, segundo-te­­nente do Exército. "É sempre um risco de vida", resigna-se. Bruno estava com a viagem de retorno marcada para amanhã.

      O mesmo orgulho e senso de justiça movia o pernambucano Davi Ramos de Lima, de 37 anos, 2.º sargento de Infantaria. "Ele sempre ajudou quem precisava. Seu coração era imenso e era muito ligado à família. Meu pai está arrasado. Seu único consolo é saber que Davi morreu cumprindo seu dever", contou seu irmão José de Arimateia Ramos de Lima, que vive em João Pessoa, como a maior parte da família do sargento.

      Davi era casado, tinha dois filhos – um garoto de 7 anos e outro de 4 meses – e era pa­­drasto de uma adolescente de 14 anos. Ele estava no país caribenho desde agosto, com retorno previsto para o dia 29 deste mês.

      Além da dor pela morte do soldado Tiago Anaya Detimer­­mani, de 23 anos, sua mãe, Dalila Anaya Henrique, e seus familiares agora se angustiam também com a espera pela chegada do corpo a Cachoeira Paulista, no Vale do Paraíba, interior de São Paulo.

      O último contato com o filho ocorreu por telefone, no Natal. "Ele estava muito alegre", lembrou. Tiago nasceu e cresceu no bairro Embauzinho, quase no limite com o município de Cruzeiro. Será recebido como herói, assim como os demais mi­­litares que também morreram na tragédia de Porto Príncipe. Tiago estava havia sete meses no Haiti, mas já se despedia do país. Ele era um dos agendados para retornar amanhã.

      Com os olhos fixos na foto de Tiago, o orgulho da família, a mãe chora silenciosamente. "Todo dia eu rezava por ele. Nun­­ca pensei que ele pudesse morrer num terremoto. É um pedaço da gente que vai embora", contou.

      Expectativa

      Para quem tem parentes na lista de desaparecidos, a angústia da espera e da dúvida é combatida pela esperança de que os militares estejam vivos. A mulher do coronel João Eliseu Souza Zanin – tido como desaparecido no Haiti –, Cely Zanin, afirmou esperar que o marido e os três oficiais que estavam com ele no momento do terremoto de terça-feira sejam encontrados.

      Cely Zanin disse, em nota, que não tem condições de dar entrevista "neste momento de dor e aflição" e pediu "a todos os irmãos brasileiros" que rezem pelo seu marido e pelos oficiais que estavam com ele no momento da tragédia: tenente-coronel Marcus Vinicius Macedo Cysnei­­ros, major Francisco Adolfo Vian­­na Martins Filho e major Márcio Guimarães Martins. "A dor é grande; a angústia, sem fim. Mas ainda tenho fé de que eles serão encontrados com vida e que voltarão para nossas famílias", afirma Cely Zanin, na nota.

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