Apesar de o Hezbollah ter nomeado o novo premier do Líbano, o que representa a chegada ao poder de aliados do Irã, principal inimigo do vizinho Israel, pelo momento, Jerusalém está calma. A análise é do pesquisador inglês especializado em questões do Líbano Jonathan Spyer, do Global Research in International Affairs Center. Ele explica: com a instabilidade política por que o país passa, os militantes do Hezbollah já têm problemas suficientes em casa para pensar em qualquer ataque à potência do sul.
O retorno da tensão ao Líbano também coloca em dúvida o papel do Brasil na missão de paz das Nações Unidas no país. A Marinha brasileira pretende enviar nas próximas semanas nove oficiais que comandarão a força naval da Unifil, como é chamada a missão. Mais 130 fuzileiros estão preparados para embarcar caso sejam chamados pela ONU. Este seria o melhor momento para isso? Spyer falou sobre esses assuntos com a Gazeta do Povo, por telefone, de Jerusalém:
Qual o grau de apreensão que a chegada do Hezbollah ao poder traz ao Oriente Médio?
Há duas facetas. No aspecto estratégico, claramente esse é um motivo de alguma preocupação, porque representa mais acesso do Irã à região. Mas, fora isso, a maior parte dos israelenses acredita que, agora, o Hezbollah estará muito ocupado com política e possivelmente em amenizar as objeções da população libanesa sunita, e portanto menos predispostos a atacar Israel num futuro próximo. O problema é serem uma milícia terrorista. É um motivo de preocupação não apenas para Israel, mas também para todo o mundo democrático e aqui eu incluo o mundo árabe democrático, que também deveria se preocupar com o crescimento do Hezbollah.
O que está envolvido no aspecto estratégico?
O Hezbollah é uma criação da República Islâmica do Irã, que enviou 1,5 mil oficiais de sua Guarda Revolucionária em 1982 para criar e treinar uma milícia no Líbano. O governo iraniano se define como dedicado à destruição de Israel, e por isso a chegada do Hezbollah ao poder preocupa. Podemos dizer que agora Israel e o Irã fazem fronteira.
Quanto o Irã influencia hoje o Hezbollah?
Ele fornecem o dinheiro, treinamento e equipamentos e têm um representante da Guarda Revolucionária em Beirute. A conexão é muito forte. Qual a influência no processo de tomada de decisões? Ninguém sabe. Mas podemos assumir que, se você coloca dinheiro em uma organização, ela te dará algum acesso a suas decisões.
E quanto o governo do premier Najib Mikati, indicado pelo Hezbollah, estará sujeito a ele?
O Hezbollah é como um Estado dentro do Estado. O que ele mais quer é a total liberdade de fazer o que quiser, sem que qualquer potência infuencie o país. E isso inclui ir à guerra sem que outros grupos libaneses possam impedi-lo. Eles tiveram esse poder até maio de 2008, quando o governo libanês tentou impor controle sobre eles. Além disso, queriam agora formar um governo que denunciasse o tribunal das Nações Unidas que investiga a morte do então premier Rafic Hariri, ocorrida em 2005. Quando o próprio filho, Saad Hariri, se recusou a fazer isso, o Hezbollah procurou alguém que o fizesse. Eles não querem nem precisam impor sua vontade a sunitas e cristãos, querem algo específico: denunciar a investigação.
Que ações do Hezbollah poderiam provocar um ataque por parte de Israel?
Não acho que Israel teria qualquer motivo para atacar a menos que o Hezbollah atacasse antes. Enquanto a fronteira estiver calma, o que tem ocorrido nos últimos quatro anos, não há problema. Mas, se eles introduzirem armamento sofisticado no Sul do Líbano e perturbarem o equilíbrio militar, então um ataque não seria inconcebível. Há também um cenário hipotético de que, se Israel atacasse as instalações nucleares iranianas, o Hezbollah atacasse Israel.
O Brasil deve em breve encabeçar o comando naval da missão da ONU no Líbano e planeja o envio de fuzileiros. Dado o delicado momento político, isso seria aconselhável?
Não acredito que as forças serão aumentadas nem reduzidas. Não há relevância imediata.
Como o governo israelense vê o interesse brasileiro em atuar na estabilização do Líbano?
Claro que o Brasil é uma potência em crescimento no mundo, e, como todos os países nessa condição, quer ter algum papel no mundo. Mas não acho que haja uma atenção específica a ele [como ator de geopolítica]. O Brasil é um novato na questão do Oriente Médio. O que existe é a sensação de que o Brasil, como muitos outros países latinos, seja mais pró-palestino do que pró-israelense. Ao mesmo tempo, promete relações muito frutíferas [com a região].
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