Buenos Aires A Argentina começou nesta semana uma fase crítica da crise energética. A falta de eletricidade e gás se agravará intensamente, afirmam os especialistas, já que a onda de frio polar que começou a assolar a Argentina no sábado à noite com temperaturas ao redor de zero graus Celsius na maior parte do país está provocando uma disparada do consumo residencial (especialmente para calefação).
Além disso, na próxima quinta-feira, segundo prevê a Autoridade de Bacia da Região Comahue, praticamente deixarão de funcionar (por causa dos baixos níveis de água das represas) as hidrelétricas de Alicurá, Piedra del Águila e Pichi Picún Leufú, responsáveis em conjunto pela geração de 1.200 megawatts, o equivalente a 16% do total gerado atualmente em toda a Argentina.
Simultaneamente, pela primeira vez em quatro anos o governo do presidente Néstor Kirchner depara-se com uma saraivada de críticas do setor empresarial, que protesta contra a paralisação das indústrias, além das ameaças de marchas e greves dos sindicatos, que reclamam contra a onda de suspensões dos operários das fábricas que tiveram que fechar suas portas por falta de energia. Para complicar, também por causa da seca que reduziu o volume dos rios em boa parte do território argentino, corre-se o risco de deixar de funcionar a hidrelétrica binacional de Salto Grande, sobre o rio Uruguai, na fronteira com o Uruguai, responsável pela geração de 1.200 megawatts. Sua represa está no nível mais baixo dos últimos 20 anos. Sua paralisação poderia ocorrer nas próximas semanas, caso persista a ausência de chuvas.
As usinas termelétricas que geram mais da metade da energia elétrica do país e que usam costumeiramente o gás como elemento de geração tampouco contam com gás. Por este motivo, precisam utilizar combustíveis líquidos, fato que lhes provoca uma perda de potência de 20%.
Por causa do frio e da expansão da economia, a demanda de eletricidade aumentou em cinco anos de 13,2 mil megawatts para 18.345 megawatts. O problema é que a oferta de energia, até poucas semanas, era de somente 16 mil megawatts. A saída encontrada pelo governo do presidente Néstor Kirchner foi a de reduzir em 1,2 mil megawats o envio de energia elétrica às indústrias. A ordem do presidente a seus assessores na área de energia é "não incomodar os consumidores residenciais". Os analistas indicam que a estratégia do governo é "ir improvisando, empurrar com a barriga e esperar que o frio acabe logo".
No ponto atual da crise, sequer a ajuda brasileira poderia ajudar, afirmam os especialistas. A eletricidade extra que o Brasil enviará, a pedido da Argentina, aumentará dos atuais 700 megawatts diários para 1,1 mil megawatts. Mas, a linha de transmissão de Garabí, por onde entrará a energia brasileira, tem uma capacidade máxima de 800 megawatts. No caso de um volume superior, a transmissão fica pouco estável. Enquanto isso, diversos produtos começam a escassear por causa da crise energética. Esse é o caso dos laticínios, cuja ausência é cada vez mais destacada nas gôndolas dos supermercados portenhos. No total, 300 indústrias em todo o país estão paralisadas. Outras 4,9 mil funcionam parcialmente a duras penas o que levou à uma queda drástica da produção industrial de vários setores nas últimas quatro semanas.
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