Um é um onívoro da mídia que não tem hesitado em bater na imprensa enquanto simultaneamente se beneficia da devotada atenção que ela lhe dedica. A outra é cautelosa e desconfiada dos repórteres que a cobrem – um legado, talvez, de quase um quarto de século de esbarrões e atritos com a mídia.
Uma disputa nas eleições gerais entre Donald Trump e Hillary Clinton, a qual parece inevitável, apresenta duas figuras altamente contrastantes não apenas em relação às questões políticas mas em suas abordagens perante os jornalistas que reportam a respeito deles. Cada um deles está sob o olhar da mídia há muito tempo – estão entre as pessoas com maior cobertura a representarem seus partidos em toda história – e cada um tem uma cauda de cometa de “narrativas” que tanto os prejudicam quanto os ajudam.
Ainda assim, mesmo após 10 meses de campanha, alguns mistérios permanecem: Trump irá moderar sua retórica extrema para apelar a eleitores independentes e unir os conservadores ao seu redor? Hillary irá se esquivar ou irá confrontar questões sobre “corrupção” – que já são uma crescente linha de ataque de Trump – e sua longa carreira na política?
O dia em que o Senado derrubou o impeachment de Clinton
Leia a matéria completaTendo acabado de sair da vitória nas primárias em Indiana na terça-feira, a qual praticamente selou seu nome para a indicação republicana, Trump estava de volta às suas típicas táticas midiáticas na manhã de quarta-feira. Concedeu entrevistas pelo telefone a programas noticiosos matutinos da NBC, ABC, Fox Noew e MSNBC.
A disposição de Trump para conceder entrevistas pelo telefone – e a disposição das redes de televisão a deixar que ele o faça – foi uma das estratégias que o ajudaram a dominar a atenção da mídia durante a temporada de primárias. Alguns programas, tais como “Fox News Sunday” e “Meet the Press” da NBC, baniram a prática, a qual impede que telespectadores vejam a linguagem corporal e as expressões faciais do candidato. Mas outros não têm tais escrúpulos; durante as primárias de março, das 63 entrevistas que Trump concedeu às seis maiores redes de televisão aberta e a cabo 39 foram pelo telefone, de acordo com a organização “Media Matters for America”, um grupo de monitoramento de inclinação liberal.
Hillary, nesse meio tempo, tem se engajado com a mídia de maneira mais parcimoniosa do que Trump e concedeu entrevistas apenas de maneira intermitente durante a campanha. Ela raramente organiza entrevistas coletivas, diferentemente de Trump, que as organizou após diversas de suas vitórias nas primárias.
Sua relativa reticência veio à tona em uma entrevista concedida à CNN, quarta-feira. Questionada pelo âncora Anderson Cooper se ela pretendia imitar parte do manual de Trump e fazer-se “mais disponível” para repórteres durante as eleições gerais, Hillary respondeu: “Bem, veja, ele fez isso e funcionou para ele, e penso que repórteres agora têm a oportunidade de fazer algumas perguntas mais duras. O homem é presumidamente o indicado, e ser uma metralhadora não o protege de maneira nenhuma, espero, de lhe fazerem perguntas difíceis que deveriam ter feito durante todo o processo das primárias.”
Hillary nunca respondeu se ela própria iria se tornar “mais disponível”.
Hillary “muito provavelmente continuará a evitar a imprensa”, disse Alexander Marlow, o editor do Breitbart.com, um popular site de notícias libertário-conservador que tem fortemente apoiado Trump. “Há simplesmente buracos demais na sua candidatura, os quais mesmo uma mídia pouco diligente pode explorar. Sua estratégia parece ser simples: minimizar a exposição.”
Trump ainda pode vir a enfrentar oposição de alguns elementos da mídia conservadora. Ele foi notoriamente denunciado por mais de 20 intelectuais conservadores de peso em uma edição especial de janeiro da revista “National Review”, um pilar do establishment conservador.
Não é provável que Trump ou Hillary mudem muito sua abordagem fundamental nas eleições gerais, previu Bill Jasso, professor da Escola de Comunicação Pública Newhouse da Universidade de Siracusa. “Mas acredito que parte da responsabilidade de fazer com que essa campanha tenha mais conteúdo é da mídia”, disse. “Eles têm de levantar mais questões com conteúdo. Isso tem de ser mais sobre as questões políticas do que sobre o lixo que vai ser atirado.”
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