Quando sair nesta sexta-feira do Departamento de Estado, Hillary Clinton deixará para trás quatro anos de frenética diplomacia, mas também a etapa mais despreocupada de sua vida pessoal, na qual se permitiu dançar de madrugada, organizar um casamento cinematográfico e protagonizar um bem-sucedido blog.
Submetida ao julgamento da mídia durante suas mais de três décadas de vida política, Hillary pareceu mais sossegada do que nunca em seu período como secretária de Estado, resguardada na distância das lutas pelo poder.
Conhecida por desafiar os ditados da moda com suas roupas quando era primeira-dama, ao chegar à diplomacia levou esse estilo a um novo nível, deixando crescer seu cabelo comprido para prendê-lo em enormes coques e usando maquiagem muitas vezes.
"Não viajo com uma estilista, ou com alguém que me ajude (com o cabelo) e não sou muito competente (nesse campo). Admiti isso durante anos e deveria ser óbvio para todos", disse ao canal "ABC" em dezembro do ano passado.
Em outra entrevista em maio passado, Hillary confessava se sentir "muito aliviada" de estar em uma etapa de sua vida na qual podia pentear-se como quisesse e não se preocupar tanto com a imagem, algo que, em sua opinião, "não merece tanto tempo e atenção".
Inclusive soube usar bem os óculos de lentes grossas que precisa para corrigir a visão dupla causada por sua lesão cerebral em dezembro, e que, segundo alguns meios de imprensa, potencializaram sua "aura de diplomata" e até lhe deram um toque moderno.
A franqueza quanto a seus gostos, o bom humor e principalmente o afastamento de qualquer debate político permitiram que Hillary superasse a imagem de mulher fria e calculista que arrastou durante sua dura disputa contra Barack Obama nas primárias de 2008 e também durante sua vida como primeira-dama.
Assim o demonstrou quando participou do blog "Texts from Hillary", um bem-sucedido espaço que utilizava uma foto dela olhando para seu BlackBerry com óculos de sol, em tom de humor.
Mais leve ainda se mostrou no final da 6º Cúpula das Américas em Cartagena (Colômbia) em abril, quando se deixou ver dançando salsa e bebendo cerveja de madrugada em um bar cubano.
Enquanto manejava crises mundiais, Hilary teve tempo de ajudar a organizar o casamento de sua filha Chelsea, que os EUA viveram em 2010 quase como uma cerimônia de uma família real, e de pedir insistentemente ao casal que a façam avó, embora esteja convencida de que seria "insuportável" e controladora nesse papel.
Também superou a morte de sua mãe em 2011 e sofreu até conseguir saldar a dívida de até US$ 25 milhões que deixou sua frustrada campanha presidencial, para a qual chegou inclusive a leiloar uma reunião com seu marido, Bill Clinton.
Sua relação com o ex-presidente se manteve também longe dos flashes, apesar de saber que passam a maior parte do tempo em casas separadas. "Foi uma experiência incrível até agora", disse Hillary sobre seu casamento em uma viagem ao Haiti em outubro, pouco após seu 37º aniversário de união.
Segundo declarou na terça-feira, Hillary planeja "recuperar o sono perdido durante uns 20 anos" quando deixar seu cargo, apesar de, em suas excursões pelo mundo, ter sido capaz de dormir até 16 horas seguidas no avião.
"Às vezes durmo inclusive durante a decolagem e a aterrissagem", reconheceu em 2011 à revista "Harper's Bazaar". "É que estou tão cansada! Acho que estou cronicamente esgotada", acrescentou.
Três dias por semana, às seis da manhã, um treinador pessoal chegava a sua casa para "torturá-la" com exercícios, e em suas escapadas de fim de semana para Nova York costumava fazer ioga, segundo explicou na mesma entrevista.
Também tentou se manter em forma nadando, mas Hillary não pôde evitar sua paixão de comer "burritos" no café da manhã enquanto outros tomavam cereais integrais.
Em entrevista recente, Bill Clinton brincou dizendo que sua mulher "viverá até os 110" anos e poderia ter "mais três maridos" além dele.
Seus recentes problemas de saúde podem convencer muitos do contrário, mas Hillary parece decidida a se armar com o capacete de futebol americano que o pessoal do Departamento de Estado lhe presenteou para empreender uma nova etapa que surge como "um livro em branco" e na qual muitos veem um futuro na Casa Branca. EFE
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