A secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, não conseguiu obter apoio brasileiro a novas sanções contra o Irã durante visita a Brasília nesta quarta-feira.
Apesar da posição firme da secretária, que disse acreditar que a República Islâmica só vai negociar após receber sanções, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou antes mesmo de reunir-se com Hillary que "não é prudente encostar o Irã na parede".
O Brasil atualmente ocupa uma vaga rotativa no Conselho de Segurança da ONU, e diplomatas norte-americanos têm tentado convencer os integrantes desse grupo a aprovarem novas sanções contra o Irã devido à recusa do país em abandonar seu programa de enriquecimento de urânio.
As atenções estão voltadas principalmente para China e Rússia, que têm poder de veto sobre resoluções do Conselho, mas os EUA também gostariam de convencer membros não-permanentes importantes, como Brasil e Turquia, para apresentar uma frente unida no impasse nuclear contra o Irã.
"Só depois que tivermos aprovado sanções no Conselho de Segurança o Irã irá negociar de boa fé", disse Hillary em entrevista coletiva.
"Essa é minha opinião, essa é a opinião do nosso governo: quando a comunidade internacional falar de forma única sobre uma resolução, então os iranianos vão começar a negociar."
O chanceler Celso Amorim reiterou que o Brasil vê margem para mais dois ou três meses de negociações com o Irã. "Nós acreditamos que ainda há oportunidade de se chegar a um acordo, talvez exija um pouco de flexibilidade de parte a parte", disse ele. "Não se trata de se curvar simplesmente a uma opinião que possa não concordar. Nós não podemos simplesmente ser levados. Nós temos de pensar com a nossa cabeça."
Hillary manifestou frustração com a posição do Brasil, e disse que as negociações com o Irã já haviam se mostrado infrutíferas. "A porta está aberta para as negociações, nunca a fechamos. Mas não vemos ninguém nem a longa distância caminhando em direção a elas", afirmou a secretária.
Fins pacíficos
Lula, que recebeu no ano passado em Brasília o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, e em maio fará uma visita a Teerã, tem alertado repetidamente contra a iniciativa de EUA, França, Grã-Bretanha e Alemanha para aprovar uma quarta rodada de sanções ao Irã.
Esses países temem que a República Islâmica esteja desenvolvendo armas nucleares, mas Teerã afirma que sua intenção é totalmente pacífica, voltada para a geração de energia e a pesquisa.
Lula afirmou a jornalistas que o Brasil apoia o programa nuclear iraniano desde que seja respeitado esse limite. "Se o Irã quiser ir além disso, o Irã irá contra aquilo que está previsto na Constituição brasileira e não podemos concordar", disse Lula.
Ele acrescentou que pretendia manter uma "conversa muito franca" sobre o assunto com Ahmadinejad em maio.
Também na quarta-feira, os Estados Unidos e a União Europeia elevaram o tom da sua retórica, acusando o Irã de adotar uma atitude "provocativa" ao elevar o grau do enriquecimento de seu urânio sem esperar a presença de inspetores internacionais.
Numa tensa reunião a portas fechadas na sede da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA, um órgão da ONU), em Viena, o representante chinês reiterou que Pequim ainda acha que não é hora de novas sanções, segundo relato de um diplomata presente.
Nesta semana, diplomatas disseram à Reuters que as potências ocidentais já haviam preparado uma proposta para a quarta rodada de sanções da ONU ao Irã, e dependiam apenas do aval de China e Rússia para iniciar imediatamente as negociações a respeito. Seria a primeira resolução da ONU com sanções em dois anos.