A secretária norte-americana de Estado, Hillary Clinton, defendeu nesta terça-feira (31) as tentativas de reconciliação do governo afegão com os talibãs ou ex-integrantes da al-Qaeda que rejeitarem a violência.
"Devemos apoiar os esforços do governo do Afeganistão para separar os extremistas da al-Qaeda dos talibãs que se uniram a suas fileiras não por convicção, e sim por desespero", afirmou a secretária de Estado americana.
"É preciso oferecer a eles uma forma honrosa de reconciliação e reintegração em uma sociedade pacificada, caso eles desejem abandonar a violência, romper com a al-Qaeda e apoiar a Constituição", acrescentou.
Ela fez as declarações na Conferência Internacional de Haia sobre o Afeganistão, que tem a participação de 90 países, organizações e observadores.
A ex-primeira-dama americana apresentou em Haia a nova estratégia do governo de Barack Obama para o Afeganistão e não mencionou o Irã, que estava representado na conferência pelo vice-ministro das Relações Exteriores para Ásia e Pacífico, Mohammad Mehdi Ajundzade.
O vice-chanceler iraniano afirmou no mesmo evento que a República Islâmica do Irã saúda as propostas de cooperação feitas pelos países doadores no Afeganistão e está disposta a participar nos projetos destinados a combater o tráfico de drogas, assim como nos de desenvolvimento e reconstrução no Afeganistão.
Hillary destacou, no entanto, que os problemas afegãos não poderão ser solucionados sem a ajuda dos países vizinhos.
"O tráfico de drogas, a generalização do extremismo violento, a gestão da água, a energia elétrica e a irrigação são desafios regionais que exigirão soluções regionais", afirmou.
A secretária de Estado também homenageou o presidente afegão, Hamid Karzai, que segundo ela "tem desempenhado um papel dirigente muito importante para seu país", mas fez críticas à corrupção no governo afegão.
"A corrupção é um câncer tão perigoso para nosso sucesso a longo prazo como a Al-Qaeda e os talibãs. Um governo que não aporta nada a seu povo se transforma no melhor instrumento de recrutamento dos terroristas", disse.
Hillary Clinton sugeriu que a comunidade internacional envie ao Afeganistão especialistas em administração local para formar uma "nova geração de funcionários e administradores".
Ao comentar as eleições presidenciais afegãs previstas para 20 de agosto, ela lembrou a importância de uma votação livre e justa, para a qual Washington concederá a Cabul uma ajuda de US$ 40 milhões.
A nova estratégia dos Estados Unidos para o Afeganistão prevê um aumento da presença militar e civil, além de um papel chave ao vizinho Paquistão, que luta para derrotar a Al-Qaeda.
Irã
O Irã está disposto a participar na reconstrução do Afeganistão, afirmou em Haia o vice-ministro iraniano das Relações Exteriores, Mohammad Mehdi Ajundzadeh.
"A República Islâmica do Irã saúda as propostas de cooperação feitas pelos países doadores no Afeganistão e está disposta a participar nos projetos destinados a combater o tráfico de drogas, assim como nos de desenvolvimento e reconstrução no Afeganistão", disse Ajundzadeh, segundo uma cópia do discurso distribuída à imprensa.
Karzai
O presidente do Afeganistão, Hamid Karzai, afirmou que a cooperação dos países vizinhos é imprescindível para conseguir a vitória sobre o terrorismo talibã.
"Sem a cooperação dos vizinhos do Afeganistão não se pode conseguir a vitória contra o terrorismo", afirmou.
Segundo o presidente, o Afeganistão se encontra em "uma encruzilhada crítica", já que, apesar dos progressos registrados em temas como educação, desenvolvimento e retorno de refugiados, precisa que a comunidade internacional mantenha seu apoio para poder continuar seu caminho rumo à estabilidade.
Entre seus vizinhos, Karzai citou expressamente o Paquistão, de onde o talibã lança operações no Afeganistão. "Não devemos tolerar nenhum santuário terrorista", afirmou.
Um dos objetivos da conferência é conseguir contribuições para financiar o aumento de soldados do Exército e da Polícia do Afeganistão, que, segundo Karzai, "precisam de fundos para se manter".
O presidente afegão frisou que a comunidade internacional deve usar "uma estratégia geral e factível" para os próximos cinco anos em seu país.
A Comissão Europeia (órgão executivo da UE) destinará outros 60 milhões de euros ao Afeganistão para a formação de policiais, realização de eleições presidenciais e o desenvolvimento rural.
A quantia se somará aos 600 milhões de euros que o Executivo comunitário já aprovou para o período 2007-10, como informou a comissária europeia de Assuntos Exteriores, Benita Ferrero-Waldner.
Ferrero-Waldner detalhou que, da nova quantia sobre a qual comunicará formalmente hoje na conferência, 20 milhões se destinarão a apoiar a realização do pleito presidencial de 20 de agosto, enquanto outros 24 milhões fomentarão o desenvolvimento rural e 15 milhões vão para a formação da Polícia afegã.
Desde 2002, a Comissão Europeia destinou 1,6 bilhão de euros para o desenvolvimento do Afeganistão.