Depois de semanas internado com infecção pulmonar e das vias urinárias, morreu ontem, aos 87 anos, o escritor colombiano Gabriel García Márquez, ganhador do prêmio Nobel de literatura de 1982. Ele estava em casa, na Cidade do México, onde viveu por mais de 30 anos nos últimos deles, enfrentando problemas sérios de memória.
A família, com exceção do irmão Jaime García Márquez, evitou vincular seus problemas de saúde ao mal de Alzheimer. A última aparição pública de García Márquez, ou Gabo, como era chamado pelos amigos íntimos, foi em seu aniversário, em 6 de março. Ele sorriu para os jornalistas, mas não falou com a imprensa.
Figura mais popular da literatura hispânica desde Cervantes, García Márquez ficou conhecido como um dos pais do realismo mágico, gênero literário desenvolvido nos anos 1960 e 1970 e caracterizado pela inclusão de elementos fantásticos no cotidiano ordinário.
De todos os seus livros, cujas vendas alcançaram mais de 50 milhões de cópias, o mais lido certamente é Cem Anos de Solidão (1967), épico sobre uma família fictícia, Buendía, numa cidade imaginária, Macondo.
Nele, o escritor mescla lembranças pessoais a acontecimentos extraordinários, antevendo o próprio drama pessoal que enfrentaria na velhice (uma cidade inteira perde a memória no livro).
Ele é autor também de O Outono do Patriarca, Ninguém Escreve ao Coronel, Crônica de Uma Morte Anunciada e O Amor nos Tempos do Cólera, seus romances mais populares. Gabo também é associado aos nomes mais representativos do chamado new journalism, corrente do jornalismo marcada pela liberdade com que são retratados fatos reais, à qual pertence o norte-americano Tom Wolfe.
Aos 20 anos, Gabriel García Márquez mudou-se para Bogotá, onde estudou Direito e Ciências Políticas sem, no entanto, obter o diploma, começando a trabalhar um ano depois como repórter do jornal El Heraldo, em Barranquilla. Ele também foi crítico do El Espectador, antes de partir para a Europa, em 1961, como correspondente estrangeiro. Sua obra jornalística completa foi publicada no Brasil pela editora Record.
Em 1967, com Cem Anos de Solidão, ele conquistaria o mundo literário, recebendo do poeta chileno Pablo Neruda (1904-1973) seu maior elogio: "É o melhor romance escrito em castelhano desde Cervantes". Seu último livro foi publicado em 2004, Memória de Minhas Putas Tristes.
Cinema 1
García Márquez se dizia um "cineasta frustrado". Ele esteve envolvido com o cinema ao longo de quase toda a vida. O cinema retribuiu o afeto, levando para as telas mais de 20 adaptações de suas obras literárias.
Cinema 2
Estudando cinema na Itália, ele aprendeu muito, mas colocou pouco em prática e dizia que sua experiência no cinema se resumiu à função de terceiro assistente em um filme de Alessandro Blasetti, afastando do set os curiosos.
Cinema 3
Durante as filmagens, ele conheceu Sophia Loren no auge da beleza. Ele não diz que filme era, mas pela época pode ser tanto Bela e Canalha quanto A Sorte de Ser Mulher (La Fortuna di Essere Donna), ambos de 1955.
Cinema 4
Rodrigo García, filho de Gabo, se tornou diretor de cinema e fez filmes que têm pouco a ver com o universo criado pelo pai, como Destinos Ligados (2009). Será que Rodrigo encararia adaptar a obra-prima Cem Anos de Solidão?