O presidente da França, François Hollande, completará nesta segunda-feira (06) o seu primeiro ano de mandato à frente do Eliseu dizimado pela crise econômica e por um nível de impopularidade que alcançou o seu mínimo histórico.
Este "ano terrível" do chefe do Estado, como foi definido por jornais como o "Le Monde", teve em março um mês particularmente ruim quando foram conhecidos os dados atualizados sobre o desemprego, que superou pela primeira vez a marca simbólica de cinco milhões de desocupados.
Hollande ostenta a marca negativa de ser o presidente que de forma mais rápida alcançou índices de popularidade tão baixos - não chegam a 30% - e receber essa desaprovação entre uma camada muito homogênea da população, explica à Agência Efe a diretora adjunta do instituto BVA, Céline Bracq.
E a razão, segundo os analistas, é de natureza econômica: oito em cada dez franceses acreditam que suas políticas nessa matéria são ineficazes, e dois terços as consideram injustas, percentagens que não são compensadas pela maior benevolência com a qual é julgado o seu papel no exterior.
"Sua ação internacional está ligada à intervenção francesa no Mali, e é o único ponto que permite resistir a essa impopularidade, mas tem pouco impacto", assinala Céline, para quem "não há nenhum indício" de que a situação se reverterá a curto prazo.
Isso se explica, segundo Jérôme Creel, diretor adjunto do departamento de estudos do Observatório Francês de Conjunturas Econômicas (OFCE), porque em nível europeu a liderança de Hollande na aposta pela reorientação econômica da Europa derivou em certo "conformismo".
"Desde a instalação da crise, as pessoas se deram conta que os políticos têm menos poder econômico do que se achava", constata o economista, que considera que o novo Executivo acabou aplicando uma política "muito conforme com a ortodoxia europeia".
Nem sequer o cumprimento de dois dos principais pontos de sua campanha - a taxação de 75% a quem recebe mais de 1 milhão de euros por ano e o projeto de lei que autoriza o casamento e a adoção por casais do mesmo sexo - se livrou da polêmica.
O primeiro ponto foi retificado após a opinião contrária do Conselho Constitucional e seu pagamento foi derivado às empresas que desembolsam esses salários milionários; o segundo foi precedido por grandes manifestações, cujos organizadores ainda seguem engajados.
Apesar de sua intenção de acabar com as divisões vividas no período de Nicolas Sarkozy, Hollande "não é um presidente que conseguiu unir os franceses", resume Céline, que destaca também que nenhum Executivo anterior conheceu críticas "tão radicais" por parte de seus aliados.
Os dois especialistas concordam que a liderança de Hollande e de seus ministros se viu questionada também por uma má estratégia de comunicação, que, segundo eles, não conseguiu transmitir de maneira correta sua linha de ação.
Mas, ao contrário do que se pode pensar, não tiveram um peso considerável sobre o presidente os escândalos envolvendo membros do seu gabinete, como o caso do ex-ministro do Orçamento Jérôme Cahuzac, titular de uma conta não declarada na Suíça.
"Há tal cinismo entre os franceses quanto aos políticos, vistos como homens mais corruptos que os demais. Assim, um escândalo a mais só provoca uma má fase midiática", explica a representante do instituto BVA.
O critério com o qual está sendo julgada a sua administração até aqui tem fundo econômico, e nesse sentido os números não o favorecem: a França será um dos países que não cumprirão o compromisso de reduzir o déficit público a 3% do PIB a partir deste ano (ficará por volta de 3,7%) e enfrenta em 2013 o seu segundo ano consecutivo de crescimento nulo.
Na melhora da economia, Hollande tem, portanto, a chave para encerrar uma desconfiança que beneficia seu adversário político direto, o partido conservador UMP, cujo eleitorado tradicionalmente se mobiliza mais que o da esquerda e que nas eleições municipais e europeias de 2014 pode causar uma primeira surpresa.