Em mais uma medida que marca a mudança de rumos no Palácio do Eliseu, o presidente François Hollande, na contramão da política europeia de austeridade, anunciou a redução do limite de idade de aposentadoria para 60 anos para os contribuintes que começaram a trabalhar aos 18 ou 19 anos. Em 2010, o governo de seu antecessor, Nicolas Sarkozy, havia elevado o limite para 62 anos, como parte de um plano de choque contra o déficit público, num esforço para manter a excelência das notas de crédito soberano do país estabelecidas pelas temidas agências de rating.
A oposição reprovou a ação do governo Hollande, desqualificada de "eleitoreira" por ser anunciada às vésperas do pleito legislativo que definirá, em primeiro e segundo turno nos próximos dois domingos, a nova composição da Assembleia Nacional.
Impostos
"Nós não temos um euro sequer para financiar estes presentes eleitorais", atacou o líder do principal partido conservador, a União por um Movimento Popular (UMP), Jean-François Copé. "Isto é o sinal de um aumento maciço de impostos que virá para todos os franceses."
Os conservadores criticaram também a medida como "antidemocrática" pela sua adoção por decreto, com entrada em vigor a partir de 1º de novembro, sem passar pelo voto do Parlamento. Em defesa da "justiça social", um dos discursos balizadores do novo governo, a alteração da lei incorporará na contagem de tempo para a aposentadoria dois trimestres tanto para a licença maternidade como para o período de desemprego.
A alteração da regra foi uma das principais promessas de campanha de Hollande, com benefícios estimados para cerca de 110 mil pessoas em 2013. O custo previsto da medida é de 1,1 bilhão de euros no ano que vem, e de 3 bilhões em 2017. Para seu financiamento, o governo aumentará em 0,1% as contribuições para os trabalhadores e para as empresas, índice que crescerá progressivamente até atingir 0,25% em 2017.
Os líderes dos principais sindicatos aprovaram a iniciativa do governo, embora o secretário-geral da Força Operária (FO), Jean-Claude Mailly, tenha considerado seu alcance "insuficiente". Por meio de um comunicado, a central sindical CGT julgou a mudança "positiva", uma "ruptura com as políticas adotadas por todo o lado na Europa.