O socialista François Hollande conquistou ontem o primeiro turno da eleição presidencial na França, marcado pelo índice surpreendente de votos conquistados pela candidata da extrema-direita, Marine Le Pen em torno de 20% segundo as pesquisas. Hollande teria entre 28,4 e 29,3% dos votos e Nicolas Sarkozy, de 25,5 a 27%. Ambos se enfrentarão no dia 6 de maio, no segundo turno.
Nicolas Sarkozy perde, assim, a aposta de levar o primeiro turno para estabelecer uma nova dinâmica para o segundo. "Escolher o próximo presidente não é uma eleição nacional, é uma eleição que vai pesar em toda a Europa", declarou Hollande na manhã de ontem em Tulle, a cidade onde votou. Ele pretende renegociar o tratado sobre o orçamento assinado no início de março, se eleito.
A candidata de extrema-direita, Marine Le Pen, chega em terceiro lugar, com surpreendentes 20% dos votos, segundo as estimativas, seguida pelo representante da esquerda radical Jean-Luc Mélenchon (10,8 a 11,7%) e o centrista François Bayrou (menos de 10%). "A batalha pela França apenas começou", declarou Marine após saber do resultado. "Nós quebramos o monopólio de dois partidos", completou.
Alta participação
O comparecimento dos franceses às urnas ficou acima do esperado, num primeiro turno dominado pela crise econômica. A taxa de participação chegou a mais de 80%, segundo estimativas dos institutos de pesquisa, uma taxa muito elevada, apesar de menor que em 2007 (83,77%). Essas cifras dissipam a preocupação com uma grande abstenção, expressada durante uma campanha que pouco envolveu os franceses, que não viam no pleito soluções para suas dificuldades.
Em duas semanas, os eleitores vão escolher quem será o presidente nos próximos cinco anos de uma das principais economias mundiais, potência nuclear e membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, com um poder como poucos no mundo democrático.
Considerado há meses vencedor no segundo turno, com 55% dos votos em média, François Hollande, 57 anos, está em posição de força para se tornar o primeiro presidente de esquerda desde François Mitterrand (1981-1995).
Com pouca experiência em cargos de peso, este homem que passa a imagem de sobriedade deverá poder contar no segundo turno com os votos dos eleitores de Jean-Luc Mélenchon e da ecologista Eva Joly.
Nicolas Sarkozy votou pela manhã, em Paris, ao lado da mulher Carla Bruni, sem fazer declarações. Atrás dos dois está a candidata de extrema-direita Marine Le Pen que pode obter mais de 20% dos votos, percentual que dá a ela uma grande importância no segundo turno e que a habilita como forte figura política para os próximos anos. Seu pai, Jean-Marie Le Pen, chegou ao segundo turno, em 2002.
A crise na zona do euro esteve presente na campanha, através da explosão de déficits, da taxa de desemprego (mais de 10% da população economicamente ativa), da questão do protecionismo europeu e da justiça fiscal. "Nunca deixei de votar, mas, desta vez, sinto muito pouco entusiasmo. No plano econômico, há pouca diferença entre os dois candidatos", comentava em Paris uma eleitora de 62 anos, Isabelle Provost.
Veja o vídeo em que Nicolas Sarkozy esconde o relógio de pulso antes de cumprimentar os eleitores: