O socialista François Hollande foi eleito ontem o presidente da França ao derrotar o atual chefe de Estado, o conservador Nicolas Sarkozy, no segundo turno das eleições francesas.
O Ministério do Interior declarou a vitória de Hollande por volta das 0h50 locais de segunda-feira (19h50 de domingo em Brasília). O socialista teve 51,7% dos votos válidos, contra 48,3% de Sarkozy.
Hollande se converte assim no segundo presidente socialista da 5.ª República Francesa fundada pelo general Charles de Gaulle em 1958 , depois de François Mitterrand, que presidiu o país de 1981 a 1995.
Em seu primeiro discurso depois de eleito, Hollande afirmou que a "austeridade não deve ser uma fatalidade" entre os diversos governos de uma Europa em crise.
"Hoje mesmo, responsável pelo futuro do nosso país, estou ciente de que toda a Europa nos observa", disse. "Na hora em que o resultado foi anunciado, tive a certeza de que em diversos países europeus houve um sentimento de alívio e de esperança, de que, por fim, a austeridade não deve ser mais uma fatalidade."
E Hollande continuou: "Neste 6 de maio, os franceses escolheram a mudança para me levar à Presidência da República" e estou "orgulhoso por ter sido capaz de devolver esta esperança. Prometo ser o presidente de todos".
Sarkozy reconheceu a derrota no início da noite, na França (cinco horas à frente do Brasil), e chamou Hollande de "novo presidente" que o "povo francês elegeu de forma democrática e republicana". O atual chefe de Estado assumiu "toda a responsabilidade pela derrota" e comunicou a seus partidários que não liderará a luta para as eleições legislativas, previstas para 10 e 17 de junho.
Hollande venceu com o apoio incondicional do candidato da esquerda radical, Jean-Luc Mélenchon (11,10% dos votos no primeiro turno), da ambientalista Eva Joly (2,31%) e do centrista François Bayrou (9,13%), mas a dirigente da Frente Nacional (FN, extrema direita), Marine Le Pen (quase 18%), defendeu o voto em branco, apesar de criticar Sarkozy com virulência.
PerfilLíder socialista mudou de postura com a ajuda de uma relação amorosa
Agência O Globo
Nos primórdios das discussões no seio do Partido Socialista (PS) para o embate eleitoral de maio de 2012, o nome de François Hollande como candidato presidenciável nunca foi levado muito a sério.
Ao longo de sua trajetória política, uma imagem pouco favorável colou no personagem. Ao romper com a tradição de extrema-direita de seu pai, Hollande se afirmou como um social-democrata "profissional", sem jamais conseguir impor uma forte e singular personalidade de liderança.
Ao contrário: era considerado um político "frouxo", desajeitado, incapaz de defender com vigor e convicção suas opiniões, apelidado inclusive de "marshmallow vivo".
Sua constância na vida política do partido, como secretário-geral por onze anos (1997-2008), se caracterizou por um papel secundário no front socialista. Hollande nunca foi chamado para ser ministro, preterido por sua então mulher, Ségolène Royal, nos governos François Mitterrand e Lionel Jospin.
Na campanha presidencial de 2007, recebeu a pouco elogiosa alcunha de "Monsieur Royal": o companheiro da candidata ao Palácio do Eliseu, de quem, no entanto, já estava separado há um ano, condição estrategicamente mantida em segredo.
Quase incógnito, François Hollande pavimentou com paciência e obstinação seu caminho rumo à candidatura socialista de 2012, sem se intimidar com o franco favoritismo do ex-ministro da Economia e ex-diretor-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI) Dominique Strauss-Kahn, posteriormente colocado fora da disputa pela acusação de estupro em Nova York, em maio do ano passado.
Revitalizado por uma nova relação amorosa, com a jornalista Valérie Trierweiler, e bem mais magro graças a uma dieta rigorosa, o insosso Hollande mudou a postura e elevou o tom de voz para relembrar o jovem candidato a deputado de 26 anos que ousou afrontar Jacques Chirac nas eleições legislativas de 1981, na região de Corrèze.
O novo presidente da França, 57 anos, terá o desafio de provar que o voto que o elegeu foi a escolha por um projeto de governo, e não apenas a opção anti-sarkozista que restou.
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