O cadáver do Homem de Gelo em laboratório| Foto: Reprodução

Há mais de 5.000 anos, ele foi ferido por uma flecha, levou um golpe de tacape na cara e morreu congelado no alto dos Alpes; agora, uma nova pesquisa sugere que, depois de toda essa tragédia, o coitado não teve nem o consolo de deixar descendentes. É triste o destino de Ötzi, o "Homem do Gelo" europeu cujo corpo incrivelmente mumificado pelo frio foi descoberto na fronteira entre a Áustria e a Itália. Uma análise genética detalhada dos restos mortais mostrou a presença de uma variante de DNA que aparentemente não existe em nenhuma pessoa viva hoje.

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"Pode ser que esse grupo genético esteja extinto ou então seja extremamente raro", diz Franco Rollo, pesquisador da Universidade de Camerino, na Itália, em comunicado oficial. Rollo foi o responsável por conduzir a análise completa do mtDNA (DNA mitocondrial, presente nas mitocôndrias, as usinas de energia das células) do Homem do Gelo, publicada online nesta semana na revista científica "Current Biology".

O extraordinário estado de preservação de Ötzi, bem como das roupas e objetos que ele portava, fascinaram de cara os cientistas e o público. Em vida, ele tinha um visual exótico do fim do Neolítico, com faquinhas de pedra, flechas e objetos de cobre. Análises mais simples de DNA nele já tinham sido feitas, permitindo até identificar sua "última ceia", que incluiu carne de cervo. Desta vez, o objetivo de Rollo e colegas era obter a seqüência total de "letras" químicas do mtDNA. Transmitido apenas de mãe para filho ou filha, ele permite traçar a linhagem de qualquer pessoa por meio de seus ancestrais maternos.

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Tem, mas acabou

Por meio de mutações específicas no mtDNA, é possível dividir a humanidade em diversas linhagens de DNA mitocondrial, descendentes das primeiras mulheres que carregaram tais alterações. Uma dessas linhagens, ou haplogrupos, como são tecnicamente conhecidas, é a K, comum nos Alpes e no Reino Unido, por exemplo. Ötzi fazia parte do haplogrupo K, mas carregava duas mutações únicas, não encontradas em nenhuma pessoa viva hoje.

O Homem do Gelo não seria capaz de passar diretamente mtDNA a seus filhos e netos -- lembre-se de que a transmissão, nesse caso, é só do lado materno --, mas sua mãe ou suas irmãs (se as tivesse) deveriam ser capazes de fazê-lo. O fato de que ninguém hoje carrega a mutação -- ao menos a julgar pelas centenas de mtDNAs já analisados -- sugere que ele e seus parentes pertenciam a uma população que sumiu mesmo. O DNA do núcleo das células, é verdade, pode ter sobrevivido em alguém, mas os dados de mtDNA tornam isso improvável. Ainda não dá para dizer o que aconteceu com o povo de Ötzi, no entanto.

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