Obama foi o mais aplaudido dos seis presidentes que falaram no funeral de Mandela – grupo que incluiu Dilma Rousseff e o sul-africano Jacob Zuma| Foto: Kevin Lamarque/Reuters

Discurso

Dilma não empolga ao falar de Madiba para público no Soccer City

Agência O Globo

Proferido em português, de forma átona e grave, o discurso de cinco minutos da presidente Dilma Rousseff não empolgou as milhares de pessoas que foram ao estádio Soccer City para o tributo a Nelson Mandela.

A participação da presidente brasileira tinha tudo para ser um dos momentos altos do evento, mas apesar das palavras humanistas – com tradução intervalada – ela recebeu aplausos escassos após exaltar a influência do líder sul-africano em seus embates pela liberdade e a igualdade e pelo fim do apartheid na África do Sul.

"Ele soube fazer da busca da verdade e do perdão os pilares da reconciliação nacional e da construção da nova África do Sul", disse a presidente brasileira.

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Reconciliação foi o mote da cerimônia em homenagem a Nelson Mandela ontem num estádio de Johannesburgo, primeiro em incontáveis discursos elogiando a capacidade do líder sul-africano de perseguir esse objetivo, depois em um inesperado aperto de mãos entre o presidente americano, Barack Obama, e o ditador cubano, Raúl Castro.

A unanimidade que foi Mandela tornou inevitável que sua despedida reunisse líderes de países inimigos, ou atritados, em um mesmo palco. Mais de 90 chefes de Estado compareceram, Dilma Rousseff entre eles.

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Especulava-se sobre um cumprimento de Obama e Hassan Rouhani, para selar um processo de aproximação entre os dois, mas o iraniano não compareceu.

Em vez disso, o presidente americano, cujo governo mantém um embargo de cinco décadas à ilha comunista, avistou Raúl ao subir ao palco e não tentou evitá-lo.

A lotação decepcionou um pouco, pois esperava-se casa cheia (95 mil pessoas). A chuva e o fato de não ter sido decretado feriado podem ter contribuído para isso.

O local, na entrada do distrito de Soweto, tinha grande significado para Mandela. Em 1990, ele fez no estádio seu primeiro grande ato após ser libertado da prisão.

Em 1993, numa manifestação no mesmo local, pediu calma a uma população enfurecida com o assassinato do carismático líder antiapartheid Chris Hani por um extremista branco, um dos momentos mais tensos da transição para a democracia.

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E, em 2010, quando o estádio ainda se chamava Soccer City, foi lá a última aparição pública de Mandela, na final da Copa do Mundo.

Obama foi muito aplaudido, mas Raúl também. Chamado de "camarada" pelo apresentador do evento, fez um discurso em que lembrou a amizade dos irmãos Castro com Mandela e a contribuição cubana na luta contra mercenários sul-africanos nos anos 70, em Angola.

O ato teve ambiente festivo. Para ajudar a espantar o frio, a multidão praticamente não parou de cantar antigos hinos e palavras de ordem para Mandela, cujo corpo não estava presente.

Hoje, começa o velório público, na capital, Pretória. O enterro será domingo, na vila de Qunu, terra dos ancestrais dele.

Um voo

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"sem turbulências" foi a definição do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso sobre a viagem que fez do Rio de Janeiro a Johannesburgo, a convite da presidente Dilma Rousseff, para assistir à cerimônia de luto em homenagem ao líder sul-africano Nelson Mandela. No avião, também embarcaram os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva, José Sarney e Fernando Collor de Mello.