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No sábado, 25 de março, Honduras cortou seus laços com Taiwan, deixando de reconhecer a ilha, e confirmou que estabeleceu relações diplomáticas com a China. O anúncio já era esperado desde 14 de março, quando a presidente Xiomara Castro comunicou pelo Twitter que seu governo buscaria relações com a China. A república caribenha era um dos quatorze países, incluindo o Vaticano, que reconheciam o governo taiwanês.
Segundo apuração da agência de notícias Reuters (que teve acesso ao documento), antes do rompimento, Honduras escreveu uma carta ao governo de Taiwan pedindo US$ 2,5 bilhões de dólares em ajuda financeira para pagamento de dívidas e a construção de um hospital e de uma represa. Mas o anúncio da presidente Xiomara Castro de 14 de março veio antes da resposta da ilha.
Segundo a Reuters, o ministro das Relações Exteriores de Honduras negou as informações, dizendo que Taiwan ouviu repetidas vezes o pedido de compra da dívida pública do país verbalmente, e que enviou uma nota à ilha “cerca de uma semana antes” do anúncio da presidente. Disse também que a decisão de seu país foi tomada em parte devido a Honduras estar “até o pescoço” com desafios financeiros e dívidas. De acordo com a agência, os governos de Taipé e de Pequim mutuamente se acusam de praticar a “diplomacia do dólar”, como abordagem na busca por aliados. A China financiou com um crédito de cerca de US$ 300 milhões (R$ 1,2 bilhão) a represa Patuca III, inaugurada em janeiro de 2021 pelo presidente à época, Juan Orlando Hernández.
Desde o tuíte da presidente Xiomara Castro, Taiwan tentou dissuadir Honduras de estabelecer relações com Pequim e que o país não deveria acreditar em suas “promessas vazias”. No dia 15 de março, o embaixador de Honduras esteve no ministério das Relações Exteriores taiwanês e após a reunião, o órgão divulgou um comunicado que dizia: “O verdadeiro objetivo das promessas falsas e atraentes do regime ditatorial chinês é retirar nossos aliados diplomáticos e suprimir o espaço internacional de Taiwan”. O governo de Taipé também afirmou que não se envolveria numa diplomacia do dólar "sem sentido" com a China.
No sábado (25), o governo de Honduras confirmou que deixou de reconhecer Taiwan e que estabeleceu relações diplomáticas com a China. Segundo comunicado do Ministério das Relações Exteriores hondurenho: “o governo da República de Honduras reconhece a existência de apenas uma China no mundo, e que o governo da República Popular da China é o único governo legítimo que representa toda a China. Taiwan é uma parte inalienável do território chinês e nesta data, o governo de Honduras comunicou a Taiwan a ruptura das relações diplomáticas, comprometendo-se a não voltar a ter nenhuma relação ou contato de caráter oficial com Taiwan”. Este anúncio também já era aguardado, já que o ministro das Relações Exteriores de Honduras, Eduardo Reina, havia viajado no dia 22 para “promover esforços para o estabelecimento de relações diplomáticas”, de acordo com o secretário de imprensa da presidência de Honduras Ivis Alvarado.
O rompimento acontece semanas antes da viagem da presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, a Belize e à Guatemala, seus aliados. No caminho, ela deve parar nos Estados Unidos, com quem a ilha mantém relações não formais. Conforme compromisso firmado entre EUA e China, os líderes taiwaneses podem se encontrar com apoiadores nos Estados Unidos, incluindo membros do Congresso americano. A governante pretende se encontrar com o presidente da Câmara Kevin McCarthy e fazer discursos em Nova York e Los Angeles.
Repercussões
O ministro dos Negócios Estrangeiros de Taiwan, Joseph Wu, afirmou que "a Presidente Castro e a sua equipe de dirigentes estão iludidos sobre a China e levantaram a questão da mudança de reconhecimento durante a campanha eleitoral". Estabelecer laços com a China era uma das promessas de campanha presidencial de Xiomara Castro, em 2021. Em 2022, contudo, o governo parecia ter desistido da intenção. Segundo reportado pela agência Reuters, Taiwan deve desocupar sua embaixada na capital de Honduras, Tegucigalpa, em 30 dias, disse o vice-ministro das Relações Exteriores, Antonio Garcia, na televisão local nesta segunda-feira.
Já o Ministério das Relações Exteriores da China disse, também nesta segunda-feira, que o estabelecimento de relações diplomáticas do país com Honduras foi uma “decisão política” sem condições. Durante uma coletiva de imprensa, o porta-voz do ministério das Relações Exteriores da China, Mao Ning, afirmou que "laços diplomáticos não são algo para comercializar," ao ser perguntado se a China daria os quase US$ 2,5 bilhões que Honduras havia pedido a Taiwan.
Histórico
Honduras é o quinto país latino a romper relações com Taiwan, desde 2017. Segundo a CNN, o movimento faz parte de uma ofensiva da China na região. Nos últimos seis anos, El Salvador, Nicarágua, Panamá e República Dominicana também cortaram laços com Taipé.
As relações entre Taiwan e Honduras foram estabelecidas em 1941, ano em que o governo da República da China (nome oficial de Taiwan) ainda estava na China, antes de escapar para a ilha em 1949, depois de perder a guerra civil contra os comunistas de Mao Tse-Tung.
Agora, são treze países que possuem relações diplomáticas formais com Taiwan, incluindo o Vaticano, contra 22 em 2016, quando Tsai Ing-wen assumiu a presidência. A maior parte está localizada na região da América Central, Caribe e Pacífico e são nações em desenvolvimento, como Belize, Guatemala, Haiti e Paraguai.