O governo de facto de Honduras disse nesta quinta-feira que não haverá acordo para que o presidente deposto, José Manuel Zelaya, deixe o país a menos que ele viaje como cidadão comum exilado e não como presidente hondurenho. Zelaya disse que só deixa Honduras como presidente. O Brasil criticou o governo de facto por sua posição contra Zelaya, que está abrigado na embaixada brasileira em Tegucigalpa desde que voltou clandestinamente para Honduras três meses atrás. O governante de facto de Honduras, Roberto Micheletti, disse em discurso a soldados que "tentaram nos enganar, quiseram surpreender Honduras mais uma vez com mentiras".

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"A petição da Embaixada do México qualifica Zelaya como presidente de Honduras, o que não se ajusta à verdade", afirmou Oscar Matute, ministro da casa civil do governo de facto de Honduras. O México, mais cedo, chegou a enviar um avião a Tegucigalpa para transportar Zelaya à Cidade do México. Mas o avião mexicano foi desautorizado a entrar no espaço aéreo hondurenho e pousou em El Salvador, disse a chanceler mexicana, Patricia Espinosa. "O México, fiel ao seu princípio humanitário, está disposto a abrigar as pessoas que se encontram em situação difícil e essa não será uma exceção" disse a chanceler Espinosa, que conversou por telefone com Zelaya. Segundo ela, "parece que as condições para que aconteça esse traslado não estão mais vigentes".

"A atitude de humilhação em relação ao presidente Zelaya, o desejo de que ele assine documentos (dizendo que ele não é presidente), é algo que eu nunca vi", disse o ministro de Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim. "É totalmente inaceitável."

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Mais tarde nesta quarta-feira, enquanto surgiam notícias sobre conversações de um possível acordo permitindo que Zelaya viajasse para o México, o país pediu garantias para sua passagem como hóspede diferenciado e enviou um avião para Honduras para levar Zelaya.

O ministro de Relações Exteriores de Honduras, Carlos Lopez, disse que a aeronave foi desviada para El Salvador quando ficou claro que Zelaya só obteria permissão para deixar o país se aceitasse asilo político como cidadão comum. O presidente deposto não aceita essa possibilidade porque o status poderia atrapalhar sua campanha de conduzir a oposição em seu país natal

"O Brasil rompeu relações diplomáticas com Honduras e receia dar a Zelaya o asilo político porque o considera hóspede. O Brasil urdiu toda uma trama para não assumir sua responsabilidade e agora usa o México com esse propósito", disse Rafael Leiva Vivas, diretor da Academia Diplomática do Ministério das Relações Exteriores de Honduras.

O ministro de Informação do governo de facto Rene Zepeda disse nesta quinta-feira que o acordo não estava mais sobre a mesa a menos que Zelaya aceitasse o asilo. "Não há novos diálogos com o México e o Brasil sobre o caso Zelaya", disse Zepeda. "Se esses países querem tirar Zelaya de Honduras, eles terão de fazer isso de acordo com a lei: dar a ele asilo em seus territórios, mas sem o cargo. Se isso acontecer, nosso governo vai aceitar que ele seja levado imediatamente, sem qualquer problema."

Zelaya continua a enfrentar a possibilidade de ser preso por traição e abuso de poder por ter ignorado uma ordem da Suprema Corte contrária à realização de um referendo sobre alteração na Constituição. O episódio levou ao golpe de 28 de junho.

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No dia 29 de novembro, Porfirio Lobo venceu as eleições presidenciais que o governo de facto espera que sejam reconhecidas internacionalmente e ajude a encerrar a crise polícia.

Zelaya disse que ao deixar o país, espera buscar um local neutro para reunir-se com Lobo e "encontrar uma solução pacífica para a situação no país". Mas Zelaya disse que quer uma solução negociada para sua partida - uma "que respeite a lei e respeite meu governo" e que permita que ele continue suas atividades políticas no exterior. Ele comandou uma espécie de governo no exílio a partir de outros países da América Latina depois que foi deposto. "Eu não vou aceitar qualquer asilo político", disse Zelaya.

O Congresso hondurenho, dominado pelo próprio partido de Zelaya, votou na semana passada, por 114 votos a 14, contra a volta do presidente deposto ao cargo para que ele pudesse concluir seu mandato, que termina em 27 de janeiro.

Zelaya disse que conversou com o presidente do México, Felipe Calderón, e com o presidente da República Dominicana, Leonel Fernandez, sobre deixar Honduras.

O Ministério de Relações Exteriores do México disse na quarta-feira que buscava "contribuir para o alívio das tensões em Honduras...por meio do diálogo e da negociação".

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Embora Zelaya se recuse a reconhecer a eleição presidencial, Lobo diz que espera abrir um diálogo franco com o líder deposto e buscar a reconciliação nacional.

As opções de Lobo, porém, são limitadas. Mesmo quando assumir o governo ele não pode anistiar Zelaya das acusações do processo porque esse poder pertence ao Congresso.

Países do hemisfério ocidental se uniram para condenar a deposição de Zelaya, mas estão divididos quanto ao reconhecimento da eleição de Lobo.

Os Estados Unidos, que cortaram parte da ajuda ao pais depois do golpe, reconheceram o resultado das eleições. Alguns países da America Latina, como Peru e Colômbia, disseram que Honduras tinha o direito de escolher um novo líder por meio do voto em eleições que já haviam sido marcadas antes da saída de Zelaya.

Outros países, dentre eles Brasil, Uruguai, Argentina e Venezuela, não aceitaram a eleição, dizendo que isso legitima o primeiro golpe de Estado na America Central em duas décadas.

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