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Médico usa uma máscara facial como medida preventiva diante da pandemia global de coronavírus COVID-19, no hospital Ana Francisca Perez de Leon, em Caracas, em 14 de março de 2020| Foto: Cristian Hernandez / AFP

No mundo inteiro, o maior temor ligado ao coronavírus é a falta de leitos em hospitais e unidades de tratamento intensivo (UTI). Na Venezuela, que sobrevive a duras penas à crise econômica, a preocupação é que a pandemia cause inúmeras mortes devido à situação do sistema de saúde nacional, que não conta com os insumos mais básicos. Na maior parte da rede de atendimento, faltam água e luz.

"Já está comprovado que a medida mais efetiva e simples para deter o coronavírus é lavar as mãos e 58% de nossos hospitais não têm água. Ou seja, pode ser um desastre a propagação do vírus dentro deles", disse o médico venezuelano José Manuel Olivares Marquina, que chefiou a comissão de desenvolvimento social da Assembleia Nacional.

Segundo pesquisa feita entre novembro de 2018 e setembro de 2019 em 104 hospitais de 22 Estados venezuelanos, ao menos 70% dos hospitais tiveram fornecimento de água apenas uma ou duas vezes por semana e 63% reportaram falta de energia elétrica, sendo que 164 mortes foram atribuídas a esses problemas.

"Lamentavelmente, a arrogância de nosso governo nos tornou o país mais vulnerável para combater o coronavírus, o que menos está preparado na América Latina. De cada dez remédios necessários para combater doenças, cinco estão em falta", afirma o médico, que deixou a Venezuela no ano passado.

No começo de março, a presidente da Sociedade Venezuelana de Infectologia já havia alertado para o impacto do coronavírus. "Não quero fazer projeções, mas o impacto seria relevante, já que os recursos são precários", afirmou María Graciela López.

Segundo a agência France Presse, no Hospital Clínico Universitário de Caracas, os pacientes são recebidos em corredores mal iluminados, enquanto funcionários carregam potes de água, pois o sistema de fornecimento não funciona. O local é um dos 46 sob supervisão militar que o governo designou para atender casos da Covid-19.

"Considerando os hospitais públicos e privados, há apenas 80 leitos de UTI disponíveis, ou seja, se muita gente precisar de auxílio respiratório, será o caos", diz Marquina. Segundo a Rede Defendamos a Epidemiologia Nacional, o número de leitos em UTI em hospitais de referência escolhidos pelo governo é de 206, sendo que metade está em Caracas. Em 53% dos hospitais, não havia máscaras no início de março e 90% carecem de um protocolo para o coronavírus, de acordo com pesquisa da ONG Médicos pela Saúde.

Até 19 de março, a Venezuela tinha 42 casos confirmados de coronavírus, mas nenhuma morte informada - uma informação questionável, segundo especialistas, já que 70% dos hospitais do país não conseguem diagnosticar a doença. O governo do ditador Nicolás Maduro pediu às pessoas que não saiam de casa e declarou "quarentena total", sob supervisão das Forças Armadas. Os voos para o exterior estão quase totalmente suspensos e as aulas foram interrompidas.

"Não há um modelo matemático para prever como será o crescimento dos casos na Venezuela. Mas, qualquer que seja o modelo, a Venezuela não tem capacidade de responder", explica Marquina.

"Os serviços de apoio a diagnósticos apresentam falhas importantes na operação e isso afeta a capacidade dos hospitais de realizar desde estudos mais básicos até os mais complexos, o que significa para o paciente não ter diagnósticos a tempo, tendo que por vezes pagar para saber se possui determinada doença".

Nesta semana, uma enfermeira da cidade de Guarenas, no estado de Miranda, divulgou um vídeo que viralizou nas redes sociais, no qual denuncia a falta de assistência e tratamento médico para os 11 pacientes suspeitos e um positivo, que estão isolados no hospital da cidade. Ela mesma é dos casos suspeitos. Também denunciou a falta de equipamentos de proteção para profissionais de saúde na linha de frente no combate ao coronavírus.

Equipamentos

Segundo estudo da rede de atendimento, 58% das máquinas de raio X da Venezuela estão inoperantes, ou seja, mais da metade dos hospitais de referência não tem capacidade de fechar diagnósticos de doenças na região do tórax. Entre abril e junho de 2019, com o aumento dos apagões, o serviço ficou ainda pior.

No caso dos laboratórios, 55% estão inoperantes. Segundo a pesquisa, 85,6% dos serviços de tomografia e ressonância magnética não funcionam - apenas 10% operam de forma completa.

"O sistema não era perfeito antes (da era Maduro), mas fizemos levantamentos do que era necessário mudar e Maduro não deu importância. Teve muita deterioração do sistema durante a crise. Hoje, há uma debilidade grande", afirma Marquina.

Conteúdo editado por:Isabella Mayer de Moura
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