Rebeldes iemenitas neste domingo (29) disseram ter realizado um grande ataque às forças da coalizão liderada pela Arábia Saudita perto da fronteira entre os dois países, e divulgaram imagens que mostram centenas de soldados capturados, incluindo oficiais sauditas, e veículos militares sauditas destruídos. Os rebeldes também disseram que mataram ou feriram 500 soldados da coalizão.
A coalizão liderada pela Arábia Saudita ainda não respondeu às reivindicações dos rebeldes. Se confirmado, o ataque representaria uma das vitórias mais significativas para os rebeldes aliados do Irã, conhecidos como houthis, na guerra civil que há quase cinco anos atinge o país mais pobre do Oriente Médio.
A rede de televisão Al-Masirah, de propriedade houthi, transmitiu no domingo imagens que mostravam uma longa fila do que os rebeldes disseram ser tropas capturadas andando em terreno acidentado. Muitos dos homens, que aparentemente se renderam aos rebeldes, usavam sandálias e roupas tradicionalmente usadas no Iêmen e em partes da Arábia Saudita. Outros tantos usavam uniformes de camuflagem. Pelo menos dois dos homens disseram à câmera que eram cidadãos da Arábia Saudita.
Outras imagens mostraram veículos blindados com marcas sauditas em chamas e armas que os houthis disseram ter apreendido. Os combatentes houthis também são mostrados aparentemente lançando ataques contra tropas da coalizão, confrontos que deixaram o que parecem ser corpos em uniformes militares sauditas.
O Washington Post não pôde verificar independentemente nenhuma das imagens.
Se as alegações sobre o ataque forem consideradas credíveis, certamente ele aumentará as preocupações em Washington e Riad de que o Irã esteja por trás das crescentes capacidades militares dos rebeldes, que nos últimos meses incluíram numerosos ataques com drones e mísseis de cruzeiro em solo saudita.
O ataque também ajudaria a dar credibilidade às alegações dos houthis de que foram eles que orquestraram o maior ataque já realizado às instalações de petróleo sauditas, em 14 de setembro, que interrompeu temporariamente a produção de petróleo e abalou a economia global. O governo Trump e Riad dizem que o ataque não veio do Iêmen e culpam o Irã, que negou a alegação.
As novas tensões ocorrem em meio a relatos no Wall Street Journal de que a Arábia Saudita concordou com um acordo parcial de cessar-fogo envolvendo quatro áreas no Iêmen, incluindo Sanaa, a capital. O acordo segue uma oferta surpresa dos houthis em 20 de setembro de interromper os ataques de drones e mísseis contra a Arábia Saudita se a coalizão parar de lançar ataques aéreos. Alguns dias depois, 15 membros de uma família, incluindo sete crianças, teriam sido mortos em um aparente ataque aéreo da coalizão no sul do Iêmen.
Um porta-voz militar houthi, falando com jornalistas em Sanaa, não disse quando a ofensiva ocorreu, mas disse que ocorreu perto da região de Najran, no sul da Arábia Saudita, perto da fronteira com a província de Saada, no norte do Iêmen.
O porta-voz, Yahya Sahria, disse que os rebeldes capturaram mais de 2.000 soldados e "centenas" de veículos blindados depois de derrotar três brigadas militares da coalizão. Ele disse que oficiais e soldados do exército saudita estavam entre os capturados. Outras autoridades houthis contatadas por telefone em Sanaa disseram que a grande maioria eram soldados iemenitas lutando com a coalizão e que cerca de uma dúzia eram cidadãos sauditas.
A coalizão, composta por países muçulmanos sunitas da região, juntou-se ao conflito do Iêmen em março de 2015 para restaurar o governo do país internacionalmente reconhecido, que foi expulso de Sanaa pelos xiitas houthis. A coalizão também busca frustrar a crescente ambição regional do Irã xiita, que inclui sua aliança com os houthis.
Os Estados Unidos e outras potências ocidentais estão apoiando a coalizão com inteligência, apoio logístico e bilhões de dólares em vendas de armas. O conflito aprofundou uma crise humanitária que deixou mais de 80% da população do Iêmen, de quase 30 milhões, em necessidade de assistência, incluindo milhões à beira da inanição.
A fronteira do Iêmen com a Arábia Saudita tem sido uma crítica zona de batalha, onde os houthis atacaram as forças do governo iemenita em numerosos confrontos.
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