Budapeste - Autoridades disseram ontem que a concentração de metais pesados no Rio Danúbio, atingido na quinta-feira pela lama tóxica que vazou na Hungria, caiu para um nível que não compromete o consumo de sua água.
A dimensão do vazamento ocorrido segunda-feira em uma fábrica de alumínio em Ajka, a 160 km de Budapeste foi reduzida. Segundo o governo, vazaram 700 mil metros cúbicos, menos do que o 1 milhão anunciado antes.
Ainda assim, o número é grande. Essa quantidade vazada da lama, que é o resultado do refino da bauxita, é pouco menor do que o petróleo que um poço da British Petroleum jogou nas águas do Golfo do México (EUA) por três meses.
O número de mortos chegou ontem a sete. Um homem de 81 anos morreu devido a ferimentos causados pela torrente de lodo, e dois corpos foram encontrados em Devecser, uma das cidades atingidas pela inundação.
A agência de desastres húngara disse que o nível de pH da água no local onde a lama atingiu o Danúbio, o segundo maior rio da Europa, estava abaixo de 9. Já em rios próximos ao local do acidente, o nível estava em 13,5. O pH neutro para a água é 7.
"Não vamos considerar a lama que chega ao Danúbio como poluição agora", disse o ministro do Interior, Sandor Pinter. "Ela não será de uma extensão que poderia causar danos biológicos ou ambientais."
O presidente da ONG World Wild Life Fund no país, Figeczky Gabor, disse que não espera "que nenhuma consequência grave ocorra fora das fronteiras da Hungria". "Nem o fornecimento de água nem a natureza ao longo do Danúbio serão prejudicados", afirmou.
Apesar da boa notícia sobre o Danúbio, o Greenpeace divulgou que amostras da lama coletadas um dia após o vazamento continham níveis "surpreendentemente altos" de arsênio e mercúrio.
Segundo a entidade, a concentração de arsênio detectada era o triplo do normalmente encontrado nesse tipo de lama tóxica. Segundo ambientalistas, a contaminação pelos metais pesados da lama vermelha terá efeitos por anos na região onde fica a fábrica de alumínio.
Tóxicos
Altamente reativos, metais pesados tomam parte em processos essenciais do organismo, mas em altas quantidades tornam-se tóxicos e levam à morte.
Contaminações com essas substâncias ameaçam comunidades por anos, pois geralmente atingem vegetais e animais, comprometendo toda cadeia alimentar. Pessoas que ingerem esses alimentos cumulam os metais pesados, que não podem ser eliminadas pelo corpo. Chumbo, mercúrio e arsênico são alguns dos metais pesados mais conhecidos.
Ontem, autoridades evitavam fazer estimativas sobre a extensão e o custo total da catástrofe, e limitaram o trabalho de jornalistas em Kolontar, também devastada pela lama, alegando que eles estavam interferindo nos trabalhos de limpeza.
Da parte governamental, equipes começaram a drenar um segundo reservatório industrial da fábrica de alumínio em Ajka para prevenir um novo desastre. Ainda não se sabe o que causou o vazamento, mas meteorologistas disseram que chuvas de verão pela Europa foram 200% acima do normal, o que poderia ter enfraquecido o reservatório.