Cidadão mostra o dedo sujo de tinta depois de votar| Foto: AFP

Os iemenitas elegeram nesta terça-feira (21) o sucessor do questionado presidente Ali Abdullah Saleh em uma eleição presidencial que é fruto de um levante popular e que foi marcada por atos de violência no sul autônomo, com um registro de dez mortos.

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Mais de 12 milhões de eleitores foram convocados nestas eleições organizadas graças ao acordo que permitiu a Saleh deixar o poder em troca de imunidade para ele e seus parentes e assessores.

Este acordo faz do Iêmen o primeiro país árabe onde um levante popular levou a uma solução negociada.

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Os Estados Unidos afirmaram nesta terça-feira que estão "estimulados" com a votação em que os iemenitas tentam pôr fim a 33 anos do regime do presidente Ali Abdullah Saleh e pediram um avanço rumo à transição democrática.

"Estamos estimulados e parabenizamos os iemenitas por realmente lançarem esse processo, fazendo parte dele como população e estaremos ao lado deles quando derem os próximos passos," disse a porta-voz do Departamento de Estado Victoria Nuland.

"Consideramos que vai ser um referendo muito forte e positivo do povo iemenita de um processo de transição com o qual seus líderes concordaram," disse ela aos repórteres.

Nuland reconheceu que uma eleição com apenas uma pessoa (o vice-presidente Abdrabuh Mansur Hadi) não é uma "democracia real", mas a considerou um "ponto de partida" por um processo mais competitivo.

"Depois de uma nova Constituição, nossa expectativa é que isso vai levar a eleições completas, livres, justas, multipartidárias, com vários candidatos, nas eleições legislativas e pelo Executivo," disse Nuland.

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Tawakkol Karman, prêmio Nobel da Paz, afirmou que é "um dia de festa para os iemenitas, pois é o dia da saída de Saleh e o fim do despotismo e da opressão".

O futuro presidente afirmou que sua eleição abria "um novo capítulo" para o Iêmen. Hadi votou em meio a aplausos em Sana, cercado por um dispositivo de segurança.

Muito antes do início da votação na capital Sanaa, às 08H00 locais (03H00 de Brasília), foram formadas longas filas separadas de eleitores e eleitoras.

A participação também foi considerável em outras cidades, em particular em Taez, no sudeste de Sanaa, vanguarda do movimento contra Saleh.

Contudo,o Iêmen mostrou também a imagem de um país dividido.

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Em Adén, grande cidade do sul, "a metade dos (vinte) postos de votação foi fechada depois de invasões de homens armados do Movimento Sulista", declarou à AFP uma autoridade governamental.

O Movimento Sulista pediu o boicote das eleições. A ala radical desse movimento, partidário de que o Iêmen do Sul recupere a independência que tinha antes de sua fusão com o norte em 1990, convocou para esta terça-feira um dia de "desobediência civil".

Em Adén, quatro civis morreram, entre eles uma criança de 10 anos, assim como dois militares e um policial em trocas de tiros entre as forças de segurança e separatistas que atacaram locais de votação, incendiando urnas e votos, segundo fontes de segurança.

Militantes sulistas também bloquearam as ruas para impedir o acesso às zonas eleitorais. Intensos tiroteios podiam ser ouvidos nas ruas.

Em Mukala (sudeste), um soldado morreu em um ataque contra um local de votação e em Lahaj (sul) um manifestante morreu em um tiroteio entre separatistas e soldados. Um militante sulista morreu em al Shihr na província de Hadramout por disparos do exército contra ativistas, segundo as mesmas fontes.

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Os habitantes das localidades onde há diversos supostos membros da rede islamita Al-Qaeda, como Zinjibar, capital da província de Abyan, não participaram na eleição devido à escassa presença de forças de segurança, segundo outras fontes locais.

Nas regiões do norte controladas pela rebelião zaidita - um seita xiita - que pediu o boicote das eleições, apenas uma zona eleitoral estava aberta na cidade de Saada, segundo responsáveis locais.