Ignorar as mudanças climáticas na Terra pode ter conseqüências desastrosas para a economia - numa escala similar à da Grande Depressão de 1930 - e criar 200 milhões de refugiados, segundo relatório do governo britânico divulgado nesta segunda-feira
A América Latina está particularmente afetada pelas variações do clima, já que a economia da região depende de recursos naturais, diz o relatório.
Os países mais pobres do mundo serão os primeiros e os mais prejudicados pelas mudanças climáticas, ressaltou o autor do estudo, o economista Nicholas Stern. Ele já trabalhou no Banco Mundial e atualmente é assessor econômico do governo britânico. Stern considerou que a comunidade internacional tem a obrigação de apoiar estes países.
A Grã-Bretanha afirma que quer limites mais rígidos para a emissão de gases do efeito estufa na Europa e em outros países desenvolvidos, com o objetivo de conter o aquecimento global e reduzir o risco de uma crise econômica global.
Ao apresentar o informe em Londres, Stern disse que atrasar as medidas em dez anos colocará o mundo num "território perigoso".
Citando projeções científicas, o relatório argumenta que "nossas ações nas próximas décadas podem criar riscos de graves prejuízos às atividades econômicas e sociais, ainda neste século e no próximo, numa escala similar àquela associada às grandes guerras e à depressão econômica na primeira metade do século XX".
O relatório ressalta que os benefícios de determinadas medidas mundiais contra o aquecimento seriam muito superiores aos custos, desde que sejam adotadas rapidamente em todo o mundo.
O estudo diz ainda que as temperaturas mundiais podem subir até cinco graus nos próximos cem anos, provocando inundações e secas que criariam 200 milhões de refugiados.
"É urgente agir, porque a presença dos gases do efeito estufa está rapidamente atingindo níveis perigosos", afirma o relatório de Stern, defendendo novos tratados internacionais sobre o tema.
América Latina
Numa seção dedicada à América Latina, o documento ressalta que as condições de vida e as oportunidades de sustento para milhões de pessoas podem ficar prejudicadas.
Segundo o texto, para o ano de 2055, a produção de milho nos países andinos e nos da América Central pode cair em média cerca de 15%.
O informe lembra que a Região Amazônica abriga cerca de um milhão de pessoas de 400 grupos indígenas diferentes, além de ser fonte para produtos farmacêuticos.
A Grã-Bretanha quer incluir grandes países poluidores - principalmente Estados Unidos, China e Índia - nos tratados internacionais que começarão a valer depois do Protocolo de Kyoto.
O governo de George W. Bush retirou os EUA do acordo - que obriga 35 países ricos a reduzirem as emissões de poluentes - em parte por causa de preocupações com o impacto econômico das medidas.
O relatório de Stern estima que a estabilização dos níveis de poluentes do efeito estufa na atmosfera custará cerca de 1% do PIB mundial até 2050.
O documento deve ser discutido na reunião que a ONU realiza no dia 6 em Nairóbi, a fim de encontrar um sucessor para o Protocolo de Kyoto, que expira em 2012.
Comentando o relatório, o ministro britânico das Finanças, Gordon Brown, propôs que a União Européia adote como meta reduzir as emissões de gases do efeito estufa em 3% até 2020 e em 60% até 2050. Além disso, Brown defendeu a expansão dos esquemas de comércio de créditos de carbono, que poderiam cobrir mais de metade das emissões.
Por esse mecanismo, países e empresas poderiam vender suas cotas de emissões de carbono para outros que tenham interesse em superar seus limites de poluição. Brown sugeriu que o mercado europeu do carbono seja integrado aos de Austrália, Califórnia, Japão, Noruega e Suíça, de modo a criar um preço global.
O ministro também sinalizou que o governo pretende tornar as metas de redução obrigatórias por lei. Brown disse que terá assessoria ambiental do ex-vice-presidente americano Al Gore, que neste ano lançou "Uma verdade inconveniente", um polêmico documentário sobre o aquecimento global.