A Igreja Ortodoxa Russa pediu clemência para três integrantes da banda de rock Pussy Riot, desde que elas mostrem arrependimento por terem feito uma "oração punk" para o país se livrar do presidente Vladimir Putin. O pedido foi feito neste domingo (30), um dia antes de um tribunal de recursos se reunir para reexaminar a condenação das cantoras.
Não havia neste domingo informações sobre se as três integrantes da banda, que haviam sido condenadas a dois anos de prisão no mês passado, vão "mostrar arrependimento", nem indicações sobre se o tribunal reduzirá as penas. Putin sempre relutou em dar a impressão de que se curva a pressões da opinião pública e tem adotado uma linha cada vez mais dura contra dissidentes desde que assumiu seu terceiro mandato como presidente russo, em maio deste ano.
Em seu comunicado, a Igreja Ortodoxa reafirmou sua própria condenação às integrantes da Pussy Riot, dizendo que as ações da banda "não podem deixar de ser punidas". O texto ressalva que se as cantoras mostrarem "penitência e reconsideração de suas ações", isso "não deve passar despercebido".
No começo de setembro, o primeiro-ministro Dmitry Medvedev disse que manter as três integrantes da banda na prisão seria "contraproducente", o que encorajou, entre os ativistas que defendem a democracia e os direitos humanos, a esperança de que o tribunal de recursos colocaria as três cantoras em liberdade. Observadores mais céticos, porém, lembram que o próprio Putin disse, antes do julgamento, que as integrantes da banda não deveriam ser julgadas com muita severidade; isso gerou expectativas, que acabaram não sendo confirmadas, de que elas não seriam condenadas à prisão por "vandalismo provocado por ódio religioso".
Nadezhda Tolokonnikova, de 22 anos, Maria Alekhina, 24, e Yekaterina Samutsevich, 30, foram presas em março depois de um show na Catedral do Cristo Salvador, em Moscou, no qual pediram à Virem Maria que livrasse a Rússia de Vladimir Putin, que seria eleito duas semanas depois para um terceiro mandato como presidente do país. Durante o julgamento, em agosto, elas disseram que estavam protestando contra o apoio da Igreja Ortodoxa a Putin e que não queriam ofender os religiosos.
O julgamento atraiu a atenção internacional e tanto o governo Putin como a Igreja Ortodoxa querem deixar o assunto para trás, para não sofrerem mais danos à sua imagem. A prisão das integrantes da banda passou a simbolizar a intolerância do governo Putin com dissidentes e provocou críticas à Rússia, mobilizando celebridades e músicos como Paul McCartney e Madonna em apoio à Pussy Riot.
Nos últimos meses, ativistas de oposição têm sido presos, revistados e interrogados e o Parlamento russo aprovou uma série de leis draconianas, entre elas uma multiplicação de 150 vezes na multa prevista por participação em manifestações de protesto não autorizadas previamente; outra lei obriga organizações não governamentais que recebam recursos do exterior a registrar-se como "agentes estrangeiros".
Na semana passada, o Parlamento, dominado por partidos favoráveis a Putin, discutiu um projeto de lei que tornaria "ofender sentimentos religiosos" um crime punível com até cinco anos de prisão.
Ações como essa tornaram os amigos, familiares e advogados das integrantes da Pussy Riot mais pessimistas quanto à possibilidade de o tribunal de recursos reduzir as sentenças. A advogada Violetta Volkova disse na sexta-feira, depois de visitar a prisão onde as três cantoras estão sendo mantidas, que tem pouca esperança de uma decisão justa, num país em que os tribunais se curvam ao governo;
"Sempre há pelo menos um mínimo de esperança pelo bom senso, e de que o tribunal atue de acordo com a lei. Mas, tendo em vista a situação política na Rússia, não podemos contar com uma decisão puramente legal", afirmou a advogada.
Stanislav Samutsevich, pai de uma das cantoras presas, disse que também tem poucas esperanças. Para ele, o governo deverá usar o julgamento do pedido de recurso para "de alguma maneira justificar a sentença severa que foi imposta".
Olga Vinogradova, bibliotecária e amiga de infância de uma das integrantes da banda, Maria Alekhina, disse que enviou livros de filosofia para a amiga encarcerada e que tem recebido mensagens dela uma ou duas vezes por semana. Alekhina tem um filho de cinco anos de idade. "Uma coisa que ela escreveu em uma carta é que não poderia pagar um preço mais alto do que uma separação prolongada de sua criança. É o preço mais alto pela liberdade de dizer o que quer", disse Vinogradova. "Ela está assustada com o que está acontecendo agora, com essas novas leis. Acho que ela esperava mais do movimento de protestos", acrescentou.
- Integrantes do Femen fazem manifestação em Paris
- Ativistas retomam protestos contra Putin na Rússia
- Boris Berezovski nega relação com "oração punk" do Pussy Riot
- "Amo a Rússia, mas odeio Putin", diz na prisão líder da banda Pussy Riot
- Autoridades russas ligam assassinato de 2 mulheres ao caso Pussy Riot
- Grupo punk recorre contra condenação a dois anos de prisão na Rússia
- Duas integrantes da banda punk Pussy Riot fugiram da Rússia
Bolsonaro e mais 36 indiciados por suposto golpe de Estado: quais são os próximos passos do caso
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
A gestão pública, um pouco menos engessada
Projeto petista para criminalizar “fake news” é similar à Lei de Imprensa da ditadura