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Soberania

Ilhas Malvinas abraçam Reino Unido e dizem não à Argentina

Bandeira das Ilhas Malvinas aparece pendurada na janela de uma casa em Stanley – a maioria dos moradores se assume como britânica | Fotos: Marcos Brindicci/Reuters
Bandeira das Ilhas Malvinas aparece pendurada na janela de uma casa em Stanley – a maioria dos moradores se assume como britânica (Foto: Fotos: Marcos Brindicci/Reuters)
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As casas em Stanley, a capital do arquipélago das Malvinas, estão decoradas com as bandeiras das Falklands e do Reino Unido; os car­­ros, pintados com a Union Jack (bandeira britânica). A cidade nunca esteve tão movimentada.

Os dois únicos hotéis — Mal­­vina House e Waterfront, onde funcionam também os dois únicos restaurantes — andam com a lotação máxima. Com gente que busca um lugar na aguardada in­­dústria petrolífera que surge nas ilhas, com veteranos de Reino Uni­­do e Argentina que lutaram a guerra pelo domínio do arquipélago há 30 anos e com jornalistas, muitos jornalistas.

Culpa não apenas da efeméride, alegam todos, mas sim do fortalecimento do discurso do governo argentino de Cristina Kirchner sobre a necessidade de se voltar a discutir a soberania sobre as Mal­­vinas.

Os 3 mil moradores do ar­­quipélago — 2,7 mil vivem em Stanley e os outros 300 vivem no campo — estão tensos e não es­­condem de que lado estão. "Somos britânicos, estamos aqui há pelo menos nove gerações. A população descende dos colonos que vieram do Reino Unido, há somente duas famílias de argentinos vivendo aqui. Se os argentinos nos invadirem novamente, mandaremos eles para o espaço", diz Patrick Watts, único locutor de rádio no momento da invasão argentina a Stanley, em 2 de abril de 1982. "De repente [há 20 anos], passei a ter um chefe militar."

Watts traduzia para o inglês o que o militar argentino mandava. Eram mensagens do tipo: "A partir de agora há toque de recolher, ha­­verá apagões para pouparmos energia, dirigiremos do lado direito da estrada e o peso substituirá a libra como moeda oficial".

"Foi muito difícil, acho que os argentinos achavam que seriam bem recebidos porque, na verdade, éramos dominados pelo Reino Unido contra a nossa vontade e ansiávamos em fazer parte da Ar­­gentina. Mas, quando chegaram aqui, perceberam que tudo era diferente. Ninguém falava espanhol e nem sabia direito onde fi­­cava Buenos Aires; campos minados foram deixados para trás", conta Veronica Fowler, professora, referindo-se às cerca de 20 mil minas terrestres que ainda existem ao redor da capital, e que so­­mente agora, 30 anos depois, co­­meçam a ser desativadas.

As palavras e o sentimento an­­ti-Argentina de Patrick e Veronica ecoam entre os kelpers, apelido dos nativos das ilhas, cuja população é uma mistura de imigrantes britânicos, estabelecidos antes ou principalmente após 1982 — a economia cresceu muito depois da guerra — e os descendentes dos colonos que chegaram no século 19 ou até antes.

Nos últimos anos, as ilhas receberam cerca de 300 chilenos para trabalhar principalmente nos setores de construção e serviços. As duas famílias argentinas costumam ser reclusas e não gostam de receber a imprensa.

"Mas escreve aí: somos um po­­vo simpático e hospitaleiro, não temos nada contra os argentinos, o que tememos é o governo de Cristina Kirchner", diz Lyn Buck­­land, kelper que, assim como to­­dos, tem passaporte britânico.

Basta alguns minutos no Vic­­tory Bar para constatar o descontentamento. O pub é um dos quatro existentes em Stanley, e sair para beber é praticamente o único tipo de entretenimento noturno.

As temperaturas nas Malvinas chegam facilmente a zero grau, mesmo no verão, e os ventos são fortes. Os pubs, bem ao estilo in­­glês, funcionam até as 23h (respeitando as leis antigas britânicas), servem cerveja quente em pints, além dos fish and chips (peixe com batatas fritas).

No Victory fazem sucesso ca­­necas de insulto aos argentinos que os moradores não deixam de considerar invasores. No banheiro, um vaso sanitário aparece com a imagem de Leopoldo Gal­­tieri, o presidente da junta militar que governava o país na época da guerra.

Ryan, que jogava sinuca no bar, diz que até gostaria de ver seu país tornando-se completamente independente do Reino Unido — atualmente as Malvinas só dependem dos britânicos nos setores de política externa e defesa. Mount Pleasant custa cerca de R$ 226 mi­­lhões por ano, ou 0,5% do orçamento militar do Reino Unido.

"Mas como ser totalmente in­­dependente se os argentinos vi­­vem ameaçando a gente? Não te­­mos como nos defender sozinhos", alega Ryan.

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