Um estudo divulgado pela organização independente americana Centro de Estudos para Imigração (CIS, na sigla em inglês) revelou que, entre o quarto trimestre de 2019 e o quarto trimestre de 2023, a maior parte dos empregos gerados nos Estados Unidos foram ocupados por imigrantes, tanto legais quanto ilegais. Neste mesmo período, o número de trabalhadores nascidos nos EUA diminuiu em 183 mil.
O estudo, publicado na última terça-feira (13), baseou-se nos dados da Pesquisa da População Atual (CPS, na sigla em inglês), que é coletada pelo Departamento de Censo dos EUA para o Departamento do Trabalho do país. A CPS, segundo o levantamento, é a principal fonte de estatísticas sobre o mercado de trabalho nos EUA e inclui todos os indivíduos que não são cidadãos americanos por nascimento, como naturalizados, residentes permanentes, visitantes temporários, trabalhadores convidados e imigrantes ilegais.
Os dados analisados pela organização mostram que a recuperação do emprego nos EUA pós-Covid não beneficiou igualmente os dois grupos populacionais do país no decorrer dos últimos anos. O período analisado também coincide com os três primeiros anos do mandato do presidente Joe Biden, que assumiu em janeiro de 2021 com a promessa de reativar a economia americana, que ainda estava enfrentando os efeitos negativos da pandemia.
De acordo com o estudo, entre o quarto trimestre de 2019 e o quarto trimestre de 2023, houve um acréscimo líquido de 2,9 milhões de imigrantes empregados, contrastando com uma diminuição de 183 mil no número de americanos que conseguiram entrar no mercado de trabalho.
O número de imigrantes empregados que não possuem formação superior também aumentou durante esse período: dos 2,9 milhões de imigrantes que conseguiram emprego nos EUA, 1,7 milhão, ou 60%, são adultos com 18 anos ou mais que não concluíram o ensino superior.
Em contrapartida, a taxa de participação no mercado de trabalho de homens americanos nascidos nos EUA, que não têm diploma universitário e estão na faixa etária de 18 a 64 anos, ainda não alcançou os níveis pré-pandemia de 2019.
O levantamento do CIS também apontou que um total de 43,5 milhões de homens e mulheres nascidos nos EUA, com idades entre 16 a 64 anos, desta vez de todos os níveis de escolaridade, estavam fora do mercado de trabalho no quarto trimestre de 2023.
Em seu estudo, a organização questiona o impacto da imigração sobre a oferta de empregos para os cidadãos americanos menos qualificados, especialmente em setores como construção, manufatura, transporte e serviços, e sugere que a queda na participação dos homens americanos sem diploma universitário no mercado de trabalho pode estar fazendo com que eles enfrentem problemas sociais graves, como suicídio, envolvimento com a criminalidade, overdose de drogas e isolamento social.
Aumento desenfreado do fluxo de imigrantes
O relatório do CIS surge em um momento de intensa discussão sobre a questão da imigração nos EUA. Ao chegar na Casa Branca, Biden prometeu reverter as políticas de seu antecessor, Donald Trump, e adotar uma “nova abordagem” em relação aos imigrantes. No entanto, no decorrer de seu governo, o democrata enfrenta desafios e críticas em relação à sua política sobre tema, tanto da oposição republicana quanto de setores de seu próprio partido.
Um dos principais problemas que vem afetando os EUA neste momento é o aumento desenfreado do fluxo de imigrantes na fronteira sul do país, que já gerou uma crise em várias cidades americanas. Segundo dados oficiais, mais de 6,2 milhões de imigrantes ilegais chegaram a ser detidos ao tentarem entrar nos EUA pela fronteira com o México desde janeiro de 2021, um número histórico.
O autor do estudo, Steven Camarota, que também é diretor de pesquisa do CIS, afirma que os dados mostram que a atual política de imigração dos Estados Unidos não está atendendo aos interesses dos trabalhadores americanos.
“O número de trabalhadores nascidos nos EUA não regressou ao nível que era antes da pandemia, enquanto o emprego de imigrantes (legal e ilegal juntos) aumentou”, escreveu ele em um artigo onde comenta o levantamento no jornal New York Post.
Camarota defende que o governo americano deveria reduzir a entrada de imigrantes ilegais e priorizar a requalificação e a reinserção dos trabalhadores nascidos nos EUA que estão fora do mercado.
“Permitir que milhões de imigrantes entrem no país para preencher empregos com salários mais baixos significa que temos pouco incentivo para empreender a difícil tarefa de conseguir fazer com que mais homens [nascidos nos EUA] voltem ao mercado de trabalho”, escreveu ele.