Por Ece Toksabay
BODRUM, Turquia (Reuters) - Dias após o mundo ter sido impactado pela imagem de um menino morto por afogamento em uma praia da Turquia, a única coisa que impedia mais refugiados sírios de tentarem fazer a mesma travessia era a grande presença da mídia no local.
“Vimos a foto do bebê, (mas) não temos outra chance”, disse Abdulmenem Alsatouf, de 36 anos, pai de três crianças e que já foi dono de um mercado na cidade síria de Idlib.
Enquanto um tribunal turco denunciava quatro supostos traficantes de pessoas por ligação com a morte do menino de 3 anos, Alsatouf era um de milhares de imigrantes esperando por sua chance de desbravar os quatro quilômetros de distância pela água até a ilha grega de Kos.
A travessia noturna, que começa no balneário turco de Bodrum, é apenas uma parte da jornada, pela qual os traficantes cobram milhares de dólares.
“Não podemos voltar para Idlib, e não há emprego para a gente na Turquia. Queremos ir para a Alemanha, mas Suécia e Bélgica também está bem. Estamos indo para Kos em alguns dias”, acrescentou.
Segundo a guarda costeira turca, 57 pessoas foram paradas em três barcos na quinta-feira à noite. Mas isso representa uma fração mínima dos 2 mil imigrantes que chegam por dia à Grécia, de acordo com grupos de ajuda humanitária.
As imagens chocantes do menino Aylan Kurdi com o rosto virado para a areia na praia de Bodrum abalaram governos europeus e deram uma cara humana à crise. O irmão dele, Galip, de 5 anos, e a mãe também estão entre os 12 mortos em um grupo de 23 pessoas em dois barcos.
Mas aqueles que planejam fazer a travessia dizem que já sabiam dos riscos. A agência de refugiados da ONU estima que mais de 300 mil pessoas usaram rotas perigosas pelo mar para chegar à Europa este ano, com cerca de 2.500 vidas perdidas.
“Sei que a viagem é perigosa, essas mortes não começaram com o menino, muitas pessoas se afogaram”, disse Mohammad Shaar, enquanto esperava sua chance de atravessar. “Se as políticas europeias não fossem tão brutais, nosso povo não teria morrido no mar. Essas pessoas são obrigadas a fazer essa viagem, não existe outro caminho para nós.”