Analistas políticos disseram no domingo que é pouco provável que as sanções impostas pela Organização das Nações Unidas (ONU) vão convencer a Coréia do Norte a abrir mão de seu programa de armas, e sua eficácia em fazer Pyongyang voltar à mesa de negociações e frear exportações perigosas pode ser prejudicada por China e Coréia do Sul.
A resolução que prevê a aplicação de sanções, que se pretende que seja um alerta não apenas à Coréia do Norte, mas também ao Irã, é sob alguns aspectos uma vitória diplomática da abordagem intransigente defendida pelos Estados Unidos e o Japão.
Ela foi aprovada com unanimidade no sábado, refletindo a reação internacional de ultraje diante do primeiro teste alegado de um artefato nuclear promovido por Pyongyang na semana passada. Mas a resolução foi abrandada para satisfazer a objeções colocadas pela China, principal benfeitora de Pyongyang, e a Rússia, e alguns de seus dispositivos permitem interpretações distintas.
- Trata-se de uma vitória diplomática da administração (do presidente dos EUA George W.) Bush, mas seu verdadeiro impacto não será conhecido até vermos como ela será aplicada - disse Mitchell Reiss, especialista em Coréia do Norte que é vice-reitor de assuntos internacionais no College of William and Mary, na Virgínia.
- Se a China, e, em grau menor, a Coréia do Sul aplicarem essa resolução, então acho que isso trará Pyongyang de volta à mesa de negociações. É duvidoso que a Coréia do Norte desista de suas armas nucleares, mas não sabemos ao certo, e é esse o objetivo das conversações entre seis nações - disse ele.
Gary Samore, ex-chefe de não-proliferação dos EUA e atual vice-presidente do Conselho de Relações Exteriores, observou que a Líbia foi convencida a abrir mão de armas nucleares em parte por sanções mantidas por muito tempo.
Mas ele afirmou que "é muito pouco provável que esta resolução obrigue a Coréia do Norte a abrir mão de seus programas de armas nucleares e mísseis balísticos, porque ela não afeta realmente os elementos essenciais (como óleo, fertilizante e cimento) de que ela precisa para sobreviver, que são fornecidos pela China e a Coréia do Sul."
A resolução permite que os países bloqueiem carregamentos que vão para a Coréia do Norte ou vêm dela, para verificar a presença de armas de destruição em massa ou equipamentos ligados a elas. Ela proíbe o comércio de armas perigosas, armas convencionais pesadas e bens de luxo com a Coréia do Norte e pede aos países que congelem recursos ligados aos programas de armas de destruição em massa de Pyongyang.
Caminho da diplomacia
Um alto funcionário dos EUA disse à Reuters que a resolução "não vai resolver o problema (dos programas nucleares norte-coreanos), e é por isso que vários países, entre eles a China, pediram que se mantenha aberto o caminho da diplomacia".
- É pouco provável também que as sanções levem à deposição do medonho regime de Kim Jong Il - disse a fonte. - Isso provavelmente vai depender de fatores internos, em lugar da tentativa de isolar ainda mais o regime que já é o mais isolado do mundo.
As sanções constituem uma ferramenta imperfeita para influenciar o comportamento internacional, mas existe em Washington uma opinião consensual ampla de que Pyongyang precisa enfrentar as consequências de seu teste nuclear.
As opções para se administrar as ambições nucleares de Pyongyang sempre foram limitadas. As negociações recentes, boicotadas por Pyongyang, fracassaram, e ninguém quer uma guerra. Alguns críticos da administração Bush são a favor de uma diplomacia mais assertiva, o que incluiria o envio de um representante para reunir-se com os norte-coreanos.
A resolução também envia uma mensagem clara ao Irã - ao qual, há três meses, o Conselho de Segurança da ONU ordenou que suspenda o enriquecimento de urânio - de que, se continuar a enriquecer urânio, será o próximo país a sofrer sanções, diz Henry Sokolski, do Centro de Educação em Política de Não-Proliferação.
Danielle Pletka, do American Enterprise Institute, acrescentou: "Como todas as sanções desse tipo, o impacto mais pesado será o efeito negativo que terão sobre os negócios com a Coréia do Norte. Pyongyang já está tendo dificuldade em encontrar dinheiro, e as sanções deverão agravar muito essa dificuldade".
Embora a China, vista como essencial para uma solução, tenha votado em favor da resolução, ela se negou a tomar parte nas revistas internacionais de carregamentos.
Pequim está mais preocupada com a possibilidade de queda da Coréia do Norte do que com sua capacidade nuclear, mas "o que a China diz e o que ela faz nem sempre são a mesma coisa", disse Reiss, do College of William and Mary, sugerindo que Pequim possa interditar carregamentos, mas não mencionar o assunto.
Embora tenha prometido "implementar fielmente" a resolução, a Coréia do Sul disse que não vai abandonar seus dois principais projetos na Coréia do Norte, que fornecem dinheiro regular aos líderes de Pyongyang. O Congresso norte-americano poderia exercer um impacto sobre o parque industrial através de negociações com Seul em torno de um acordo de livre comércio, disseram assessores do Congresso. Leia mais: O Globo Online
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