Washington - A divisão de ânimos entre a maior parte dos países membros da Organização dos Estados Americanos (OEA) e de um grupo menor liderado pelos EUA ficou mais clara ontem. Após relato pessimista que destoou de suas mais recentes intervenções, o secretário-geral da entidade, José Miguel Insulza, disse que considerava impossível neste momento enviar uma missão eleitoral para monitorar o pleito presidencial hondurenho, como reza acordo assinado em 30 de outubro.
A decisão foi defendida pela maioria, Brasil incluído, mas sofreu críticas da delegação americana. No mesmo dia, os EUA anunciaram que enviavam o número 2 do Departamento de Estado para a América Latina, Craig Kelly, para novo esforço diplomático entre o grupo do presidente deposto Manuel Zelaya e do líder do regime golpista, Roberto Micheletti, cujas negociações desandaram nos últimos dias.
Washington insiste em que a saída para a crise hondurenha é a realização das eleições presidenciais, marcadas para o dia 29; a maior parte da OEA acredita que não há legitimidade no pleito sem que Zelaya seja restituído. Acordo firmado entre as duas partes sob o guarda-chuva do então número 1 da Chancelaria dos EUA para a América Latina, Thomas Shannon, prevê a formação de um governo de união nacional e deixa a decisão sobre a volta ou não de Zelaya para o Congresso hondurenho.
Pouco diálogo
Em sua intervenção inicial na reunião extraordinária do Conselho Permanente da OEA, Insulza disse que achava difícil que o diálogo político fosse retomado em Honduras. Neste momento, o impasse se dá em torno da formação do gabinete do tal governo de união nacional, que deveria ter sido constituído no dia 5: Micheletti indicou seus nomes, mas Zelaya se recusou a fazê-lo antes de o Congresso se pronunciar sobre sua restituição.
Insulza defendeu o líder deposto e disse que "o presidente Zelaya não tem nenhuma disposição de voltar a conversar com o governo "de fato, portanto qualquer solução terá de ser unilateral. Concluiu: "Do ponto de vista político, não existe nenhuma condição para enviar uma missão eleitoral.
Em sua intervenção sobre o assunto, o embaixador do Brasil na OEA, Ruy Casaes, chamou o novo desdobramento da crise de "uma telenovela muito mal-escrita, com "personagens sinistros e atores principais "péssimos, que "atuam com a mais deslavada má-fé. "Não estou seguro ao que comparar essa crise. Ao mito de Sísifo? Da fênix? O povo hondurenho merece melhor sorte.
A manhã foi rica em metáforas. O representante da Venezuela, Roy Chaderton, disse que a coisa toda lembrava a fábula da Cinderela, com Micheletti "no papel do rato.
Em sua segunda intervenção, o representante interino americano, W. Lewis Amselem, que havia defendido o reconhecimento dos resultados das eleições, recorreu à literatura. "Ouvimos que alguns não vão reconhecer as eleições. O que isso significa no mundo real? Não no mundo do realismo mágico, mas no real?