Crise alimentar
Mudanças climáticas vão agravar a fome, alerta Oxfam
As tempestades e secas que provocaram altas perigosas no preços dos alimentos há poucos anos podem ter sido um "presságio terrível" do que nos espera quando as mudanças climáticas se manifestarem com mais violência, alertou ontem a organização de caridade britânica Oxfam.
Em um relatório publicado no início das negociações climáticas da ONU em Durban, na África do Sul, a Oxfam mencionou picos nos preços de trigo, milho e sorgo, provocados por extremos climáticos, que arrastaram dezenas de milhões para a pobreza nos últimos 18 meses.
"Isto só vai piorar à medida que as mudanças climáticas avançarem e a agricultura sentir os efeitos do calor", afirmou Kelly Dent, da Oxfam. "Quando um evento climático causa picos nos preços locais ou regionais, os pobres costumam sofrer um duplo impacto", acrescentou. "Eles têm que enfrentar a carestia dos alimentos em um momento em que os extremos climáticos também podem ter matado seus animais, destruído seus lares ou fazendas", explicou.
Em 2010, uma onda de calor na Rússia e na Ucrânia fez os preços internacionais de trigo dispararem de 60% a 80% entre julho e setembro. Em abril de 2011, os preços do trigo estavam 85% mais altos nos mercados internacionais do que no ano anterior, informou a Oxfam. Em julho, os preços do sorgo estavam 393% mais altos na Somália, enquanto o milho encareceu 191% na Etiópia e 161% no Quênia em comparação com a média dos últimos cinco anos, refletindo o impacto da seca no Cifre da África.
Enquanto isso, tempestades e tufões no sudeste da Ásia fizeram disparar os preços do arroz na Tailândia e no Vietnã. Em setembro e outubro, o custo desta importante commodity estava entre 25% e 30% mais elevado do que um ano antes. Uma grande seca no Afeganistão ajudou a elevar em 79% os preços do trigo e da farinha de trigo no país em julho com relação ao ano anterior.
Em fevereiro, o Banco Mundial (Bird) calculou que 44 milhões de pessoas dos países em desenvolvimento haviam entrado na pobreza extrema como resultado da espiral dos preços dos alimentos. Na edição de novembro de seu Relatório de Preços dos Alimentos, o Bird informou que o índice global do custo alimentar havia alcançado um pico em fevereiro, caindo 5% desde então. Mesmo assim, o índice ainda estava 19% maior do que em setembro de 2010, embora a cifra varie muito segundo o país e a commodity.
AFP
As negociações das Nações Unidas sobre as mudanças climáticas tiveram início ontem em Durban, África do Sul, em meio a indícios de um aprofundamento do abismo político sobre como conter as emissões de carbono.
No topo da agenda está o destino do Protocolo de Kyoto, o único pacto global com metas para conter as emissões de gases causadores do efeito estufa, cuja primeira etapa de compromissos expira no fim de 2012. Também se espera que a conferência leve adiante um "Fundo Climático Verde" com vistas a destinar US$ 100 bilhões até 2020 a países expostos a seca, inundações, tempestades e mares em elevação, o que cientistas preveem que vão piorar este século.
Mas o humor nas negociações tem sido azedado por divisões sobre como dividir o fardo de corte das emissões, enquanto as nuvens negras de uma crise econômica global lançam uma sombra sobre o fundo climático.
A chefe climática da ONU, Christiana Figueres, alertou que as negociações precisavam urgentemente ganhar a confiança pública. "Esta conferência precisa reassegurar a todos aqueles que já sofreram e a todos aqueles que ainda vão sofrer com as mudanças climáticas de que uma ação tangível está sendo tomada para um futuro melhor", afirmou.
Segundo analistas e negociadores, estão em campo as divisões no âmbito da Convenção da ONU sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC), contrapondo ricos e pobres, ricos contra ricos e pobres contra pobres. "Esta é uma das conferências mais imprevisíveis", disse Tasneem Essop, do Fundo Mundial para a Natureza (WWF) Internacional.
Cortes
As nações ricas que participam do Protocolo de Kyoto estão empacadas em demandas para renovar seu compromisso de corte de emissões depois de 2012. Eles argumentam que tal medida seria um disparate uma vez que os dois principais emissores a China, que enquanto país em desenvolvimento não tem metas específicas previstas no tratado, e os EUA, que se recusaram a ratificá-lo em 2001 não estão submetidos a restrições similares.
Em um comunicado, o bloco de 132 países em desenvolvimento atacou alguns países ricos "que insistem em posições inflexíveis que tornam bem difícil fazer um avanço real". No entanto, também há rachas neste bloco. Países que são os mais pobres e mais vulneráveis temem que os chamados países Basic Brasil, África do Sul, Índia e China que hoje são grandes emissores queiram retardar um pacto global até 2020.
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