A Câmara dos Deputados dos Estados Unidos aprovou na noite de quarta-feira o impeachment contra o presidente Donald Trump, sob as acusações de abuso de poder e obstrução do Congresso.
Após 11 horas de debates sobre a conduta de Trump em relação à Ucrânia, republicanos e democratas votaram quase totalmente de acordo com a linha de seus partidos nos artigos de impeachment. Trump será o terceiro presidente americano a enfrentar julgamento no Senado - que decidirá se o presidente deve ser removido do cargo faltando menos de um ano para a próxima eleição presidencial.
Mas, salvo uma mudança muito drástica na situação, o Senado de maioria republicana deve absolver Trump.
Na imprensa americana, a especulação já começou sobre qual partido será prejudicado e qual será beneficiado na próxima corrida presidencial. Alguns analistas creem que todo o processo, em vez de desgastar o presidente, acabará servindo como combustível para a sua campanha de reeleição.
Um exemplo que reforça essa hipótese: o comitê do Partido Republicano anunciou que a arrecadação para a sua campanha atingiu um valor recorde em novembro, em meio à batalha de impeachment contra Trump. Segundo a Fox News, o partido arrecadou US$ 20,6 milhões no mês passado, que foi o melhor mês de novembro da história da partido.
O partido atualmente tem US$ 63,2 milhões em fundos, o maior montante que o partido já teve desde as eleições presidenciais de 2012, ainda segundo a Fox News.
Não está claro se o impeachment está prejudicando os democratas. Mas o caso parece, no mínimo, não ter prejudicado Trump. Depois de dois meses de relatos de denunciantes, investigações, interrogatórios e a votação para destituir Trump, não há indícios de que as revelações tenham reduzido o apoio ao presidente.
As taxas de aprovação a Trump ficam em uma média de 43,3% nas bases de dados de pesquisas do FiveThirtyEight, a aprovação mais alta desde março de 2017 - embora não seja uma diferença muito grande das taxas um pouco acima de 40% que Trump sustentou por bastante tempo.
Nunca se esperou que Trump fosse realmente destituído do cargo, e Pelosi tinha preocupações de que o impeachment prejudicaria o partido dela tanto quanto o impeachment de Bill Clinton prejudicou os republicanos em 1998. Ainda é cedo para ter certeza se, e quanto, o caso prejudicará os democratas em 2020. Mas é significativo que todas as revelações não tenham diminuído o apoio a Trump.
Entre os democratas, ainda não está claro quem será o escolhido ou escolhida para concorrer à presidência em 2020. E durante essa corrida, eles mesmos têm se encarregado de desgastar a imagem uns dos outros nos debates televisivos.
Julgamento do Senado
Com resultados previsíveis, os americanos não têm prestado tanta atenção ao processo quanto há 21 anos, a última vez que a Câmara dos EUA aprovou o impeachment contra um presidente, o democrata Bill Clinton.
Especialistas concordam com a previsibilidade do resultado do julgamento. Analistas políticos americanos estimam que, se os democratas não conseguiram atrair nenhum voto dos republicanos da Câmara para o seu lado, provavelmente nenhum, ou só poucos, dos republicanos do Senado ousará votar com eles pelo impeachment.
E esse seria um ótimo resultado a ser capitalizado por Trump em ano eleitoral. Os republicanos veem o julgamento no Senado como a absolvição do presidente ao final da saga.
Por isso, o líder republicano espera que o processo de impeachment não demore a chegar à Câmara Alta, que lhe defenderá energicamente, e ficou incomodado ao saber que os democratas da Câmara podem reter temporariamente o envio dos artigos ao Senado.
Os democratas dizem que o envio do processo dependerá de como o Senado vai escolher conduzir o julgamento de Trump. "Não podemos nomear gerentes até que vejamos como será o processo no Senado", disse a presidente da Câmara, Nancy Pelosi. "Até agora, não vimos nada que nos pareça justo. Espero que seja justo. E quando virmos isso, enviaremos nossos gerentes", acrescentou.
"O que eles estão fazendo?", perguntou Trump ao senador republicano Lindsey Graham, ao ouvir a decisão dos democratas. "Eu disse, 'Sr. Presidente, eu não sei'", Graham disse à jornalistas antes de viajar para a Casa Branca discutir o assunto.
Donald Trump pode não ter gostado de receber o rótulo de terceiro presidente a sofrer impeachment na história dos EUA. Mas, aparentemente, ele é um presidente que sofreu impeachment e que tem chances de ser reeleito.