Curitiba – A onda de violência em Paris expressa o descontentamento com a política social de abandono às minorias, é o que avalia Alexandre Coutinho Pagliarini, especialista em União Européia (UE), doutor em Direito pela PUCSP e professor da Unibrasil.

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Gazeta do Povo – A onda de violência na França pode representar mais uma crise política na UE?Alexandre Coutinho Pagliarini – A onda de violência que se vê em Paris com a queima de 900 a 1.000 carros por noite nos leva a pensar que o Brasil, por exemplo, não teria a mesma capacidade de reação como os franceses ao expressar o que não agrada. O que não está agradando é a política social de abandono das minorias. Não existe hoje na França uma política interna de retomada dos direitos sociais, assim como houve nos 14 anos do governo de François Mitterand. As políticas européia e francesa têm sido nefasta para as minorias.

Em que medida a violência reflete o "não" francês à Constituição da União Européia?Na medida em que o governo francês está desgastado e a população tem o sentimento de estar perdendo direitos sociais em um projeto de integração mal explicado. O "não" francês traz uma forte carga de descontentamento interno com o governo de direita de Jacques Chirac. Ainda há muita confusão a respeito do que representa o projeto europeu de integração. O governo Chirac sairá mais enfraquecido dessa situação com o risco de o primeiro-ministro Dominique Villepin vir a cair a qualquer momento. O decreto do governo autorizando os municípios a adotarem o toque de recolher não era utilizado desde a Guerra com a Argélia (1954–1962). A situação francesa refletirá em outros países.

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Como o senhor analisa a postura do governo francês no controle da violência?É um paradigma, uma vez que militarmente é interessante, mas, do ponto de vista histórico, é lamentável, porque isso ocorre em um país considerado o berço dos direitos humanos. O aumento do fluxo de imigrantes gerou um barril de pólvora na região e a presença deles desagrada à parte dos franceses da classe alta e média. A perspectiva dos imigrantes é de exclusão absoluta. Estima-se que 40% não tenham acesso ao mercado de trabalho. É preocupante a aversão francesa aos imigrantes africanos e do Leste Europeu.