Um novo estudo da organização conservadora Media Research Center (MRC) mostra uma disparidade na cobertura eleitoral sobre os candidatos presidenciais dos EUA.
A análise, que começou em julho e foi divulgada uma semana antes da votação desta terça-feira (5), aponta que as emissoras ABC, CBS e NBC retrataram a vice-presidente Kamala Harris de forma positiva em 78% dos materiais verificados, enquanto o ex-presidente republicano Donald Trump, que também concorre à Casa Branca, foi mencionado 85% das vezes nas mesmas emissoras de forma negativa.
Segundo o estudo do MRC, nos últimos quatro meses, os três grandes veículos de comunicação inundaram suas audiências com quase quatro horas de transmissão comentando negativamente uma série de assuntos pessoais da vida de Trump, ao mesmo tempo em que evitaram dar a mesma cobertura a Kamala Harris, que recebeu análises e comentários mais leves e teve uma série de controvérsias ignoradas pela imprensa americana.
Em vez disso, na análise do MRC foi verificado que a cobertura de Harris foi repleta de citações entusiasmadas de eleitores, em uma clara avaliação positiva para o democrata. A organização chegou a classificar a cobertura de Harris logo depois de substituir Biden na corrida como uma "estrela do rock".
Os analistas do MRC observaram que, após o debate presidencial de 10 de setembro, as três grandes emissoras desviaram a atenção da candidata e passaram a gastar mais tempo de cobertura com um viés negativo sobre Trump.
Em relação aos números, desde que Kamala Harris assumiu a corrida presidencial, em 21 de julho, até 10 de setembro, ela recebeu quase seis horas de cobertura no noticiário noturno das emissoras, semelhante ao que o republicano Donald Trump recebeu no mesmo período.
Desde então, no entanto, a imprensa focou quase o dobro de atenção em Trump do que em Harris: quase sete horas para o ex-presidente, em comparação com apenas aproximadas quatro horas para o vice-presidente democrata.
Das doze horas de transmissão do noticiário noturno dedicadas a Trump desde 21 de julho, quase um terço (230 minutos, ou 31%) foi dedicado a retratar suas controvérsias pessoais, o que, a título de comparação, equivale a apenas 5% do tempo de transmissão que Harris recebeu em assuntos semelhantes (28 minutos, de um total de 583 minutos de cobertura).
O ataque do Capitólio de 6 de janeiro de 2021 foi o grande foco da cobertura política. Cerca de 30 minutos foram utilizados para defender que Trump é um "perigo para a democracia" ou um "fascista" disposto a usar militares para perseguir seus oponentes.
As três emissoras também gastaram cerca de 18 minutos criticando Trump por supostamente disseminar informações falsas sobre a resposta do governo Biden aos furacões Helene e Milton, no último mês; cerca de 13 minutos foram dedicados para jornalistas manifestarem "preocupações" sobre a idade e aptidão do republicano para um segundo mandato. O estudo apontou que, em cada um desses tópicos, as redes miraram Trump com cobertura variando de 97% a 100% negativa.
A candidata do Partido Democrata, no entanto, não sofreu tais ataques na televisão americana. Ao longo dos quatro meses que antecedem as eleições, os telespectadores do noticiário noturno ouviram cerca de 5 minutos e 22 segundos de críticas dos republicanos de que Kamala é "muito liberal", quase um sexto do tempo de transmissão gasto na alegação de que Trump é um "fascista". Nenhuma dessas coberturas incluiu críticas de repórteres ou entrevistados sobre Harris.
No relatório, a organização conservadora indicou que as redes conseguiram ser relativamente imparciais em uma situação: quando o assunto é a agenda política dos candidatos. Tanto Harris quanto Trump receberam cobertura majoritariamente negativa nesse caso.
Somando todas as declarações avaliativas sobre política, a cobertura de Trump foi de 63% negativa contra 37% positiva, não muito diferente dos 54% negativos e 46% positivos de cobertura para Harris sobre as pautas políticas.
Três pontos receberam a maior cobertura: imigração (100 minutos ou quase duas horas); economia (87 minutos ou pouco mais de uma hora) e aborto (44 minutos, menos de uma hora). Sobre economia, a cobertura de Trump foi, na verdade, ligeiramente positiva (55%, contra 45% negativa), contra 55% negativa para Harris.
Quanto à imigração, Trump recebeu 11 comentários positivos contra 26 negativos, três vezes mais declarações negativas individuais do que para Harris.
Metodologia do estudo
Para a realização do relatório, os analistas do MRC revisaram todas as 660 histórias sobre a campanha presidencial que foram ao ar nos noticiários noturnos da ABC, CBS ou NBC de 21 de julho (o dia em que o presidente Biden encerrou sua candidatura) até 25 de outubro, incluindo fins de semana.
A cobertura total foi somada em 24 horas e 15 minutos, quase igualmente dividida entre as três redes: 8 horas e 20 minutos na NBC; 8 horas e 13 minutos na CBS; e 7 horas e 42 minutos na ABC.
Os analistas responsáveis pelo estudo contabilizaram todas as declarações explicitamente avaliativas sobre cada candidato, de repórteres, âncoras ou fontes convidadas, como especialistas ou eleitores. Avaliações de fontes partidárias, bem como declarações neutras, não foram incluídas.
De acordo com a organização, a diferença na cobertura entre os dois candidatos à presidência neste ano é muito maior do que nas eleições de 2016, quando Donald Trump e a democrata Hillary Clinton receberam cobertura majoritariamente negativa (91% negativa para Trump, contra 79% negativa para Clinton).
Também é maior do que em 2020, quando Joe Biden, atual mandatário americano, recebeu 66% de cobertura positiva, contra 92% negativa para Trump.
PT se une a socialistas americanos para criticar eleições nos EUA: “É um teatro”
Os efeitos de uma possível vitória de Trump sobre o Judiciário brasileiro
Ódio do bem: como o novo livro de Felipe Neto combate, mas prega o ódio. Acompanhe o Sem Rodeios
Brasil na contramão: juros sobem aqui e caem no resto da América Latina
Deixe sua opinião