O candidato republicano à Presidência dos EUA, Mitt Romney, não voltou atrás nas afirmações vazadas em um vídeo na segunda-feira pela revista "Mother Jones" e que levou a uma onda de críticas nesta terça. Nas imagens, o ex-governador de Massachusetts chama boa parte dos eleitores de "vítimas" que não assumem a responsabilidade por suas vidas e acreditam que o Estado deve cuidar deles.

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"Não foi uma afirmação elegante. Estava falando de improviso, respondendo a uma pergunta", disse o republicano na segunda-feira (17) à noite na Califórnia, em uma tentativa de sua campanha de conter às pressas as críticas ao episódio.

Para analistas, o vídeo pode prejudicar a já problemática campanha republicana, mas seria precipitado dar as eleições como vencidas pelo presidente Barack Obama. A sete semanas da votação, pesquisas mostram Romney enfraquecido diante de Obama em alguns estados-chave. Segundo Chris Cillizza, do "Washington Post", eventos recentes - como os comentários do republicano sobre a morte do embaixador Chris Stevens na Líbia - reforçaram a imagem de um candidato despreparado e de uma campanha desorganizada. Uma das maiores desvantagens de Romney na disputa com Obama é a percepção da maioria do eleitorado de que ele está desconectado das necessidades e interesses do americano médio.

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"Separados, nenhum dos incidentes recentes teriam grande impacto no redemoinho constante da política. Juntos, eles mostram uma imagem de uma campanha em desordem e um candidato despreparado. Contexto sempre importa na política, e o contexto do vazamento deste vídeo não poderia ser pior para a campanha de Romney", escreveu Cillizza no artigo "A hora mais negra de Romney".

No vídeo, gravado em maio último e divulgado na segunda-feira, Romney descreve os simpatizantes de Obama, quase metade do eleitorado americano, como "pessoas que vivem de esmolas do governo e não cuidam de suas vidas". A doadores, Romney diz que 47% dos eleitores americanos votariam de qualquer maneira no presidente nas eleições de 2012 porque são pessoas "dependentes do governo, que acreditam ser vítimas, que acreditam que o governo tem a responsabilidade de tomar conta delas, que acreditam ter direito à cobertura de saúde, à alimentação, à moradia, ao que vocês (na plateia) listarem".

Para David Brooks, colunista do "New York Times", as declarações de Romney sugerem que o candidato não sabe muito sobre o país que gostaria de governar, nem sobre a cultura, a política ou a sociedade americanas.

"Por último, seu comentário sugere que Romney não sabe nada sobre ambição e motivação. A fórmula que ele prega é: pessoas que são forçadas a se virar sozinhas têm sucesso. Pessoas que recebem benefícios ficam dependentes", escreve Brooks, "Pessoas são motivadas quando se sentem competentes, quando têm mais oportunidades. A ambição é incitada pela possibilidade, não pela privação".

Matt Viser, do "Boston Globe" destaca que o vídeo reforça a imagem de Romney como um homem distante do eleitor comum. Glen Johnson, no mesmo jornal, é ainda mais duro: "O candidato republicano descartou quase metade das pessoas que ele deseja liderar como presidente dos EUA."

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Apesar das críticas, Romney não pediu desculpas pela gafe e se defendeu, dizendo que o vídeo não capta suas visões e seu comentário completo sobre a responsabilidade individual e o papel do governo na sociedade.

"Estou falando de um processo político de atrair pessoas para minha campanha. Minha campanha é sobre ajudar pessoas a serem mais responsáveis e a arrumarem um emprego de novo. Você acredita em uma sociedade centrada em um governo que oferece mais e mais benefícios ou você acredita em uma sociedade de livre iniciativa, onde as pessoas são capazes de ir atrás de seus sonhos?", argumentou o republicano, afirmando que não faz promessas diferentes para financiadores da campanha e eleitores.

O magnata Donald Trump saiu em defesa do republicano nesta terça-feira, reiterando que Romney não deveria mesmo se desculpar pela forma de desdenhou dos eleitores de Obama, quase metade do eleitorado americano.

"Ele não deveria se desculpar, acho que já vimos desculpas suficientes", disse Trump à NBC. "O que ele disse é provavelmente o que pensa e ele já disse que foi deselegante. O fato é que ele não pode de desculpar, Romney está atrás dos eleitores independentes. Ele não terá o voto de muitos dos eleitores com que está discutindo".

Além da divisões dentro do Partido Republicano - deflagradas depois da decepcionante convenção em Tampa, Romney tem um problema estrutural. É um moderado que se viu arrastado para um discurso duro, mais próximo da extrema-direita. O que poderia acontecer com o ex-governador é o mesmo que aconteceu com John McCain há quatro anos: ficar sem discurso. No "New York Times", Brooks reitera esta posição:

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"Acho que ele é um homem decente e gentil que diz coisas estúpidas porque está fingindo ser o que não é".